terça-feira, 25 de julho de 2023

"Não é preciso muita consideração para concluir que muitas coisas no mundo estão além do controle humano", Uma introdução à filosofia budista - Stephen J. Laumakis

A frase aborda a noção de limitação e impotência do ser humano diante de diversos aspectos da existência.

Inevitabilidade da realidade: Há aspectos da realidade que são inevitáveis e que não podemos controlar, independentemente de nossos desejos ou esforços. Isso pode se referir a fenômenos naturais, acontecimentos imprevisíveis ou mesmo à natureza humana, que muitas vezes apresenta limitações e incertezas.

Humildade perante o desconhecido: A frase ressalta a importância de reconhecer a nossa própria limitação e impotência diante do desconhecido e do incontrolável. Ela nos convida a uma postura de humildade diante das forças que estão além de nosso alcance, evitando a arrogância de acreditar que podemos controlar tudo ao nosso redor.

Reflexão sobre o destino e livre-arbítrio: Levanta questões filosóficas sobre o equilíbrio entre o destino e o livre-arbítrio. Se muitas coisas estão além do controle humano, isso pode levar a questionamentos sobre o quão livre é a nossa vontade diante das circunstâncias que nos cercam.

Aceitação da incerteza: A frase sugere a necessidade de aceitar a existência da incerteza na vida. Nem tudo é previsível ou controlável, e essa realidade pode gerar desconforto e ansiedade. Aceitar a incerteza é uma forma de lidar com a natureza imprevisível do mundo.

Consciência da complexidade do mundo: Reconhecer que muitas coisas estão além do controle humano é também reconhecer a complexidade do mundo em que vivemos. O mundo é repleto de sistemas interconectados e fenômenos que não podem ser completamente compreendidos ou controlados por uma única entidade.

Devemos refletir sobre nossa condição humana e reconhecer nossas limitações diante de um mundo que é vasto, complexo e muitas vezes imprevisível. Isso não significa que não tenhamos influência ou responsabilidade sobre o que acontece, mas sim que precisamos reconhecer a humildade diante das coisas que estão além do nosso controle e desenvolver uma postura de aceitação e respeito pela vastidão e imprevisibilidade da existência. 

segunda-feira, 24 de julho de 2023

Estar presente é mais importante do que dar presentes

Estar presente é mais importante do que dar presente destaca a importância do verdadeiro envolvimento emocional e atenção dedicada a alguém, em oposição a simplesmente oferecer presentes materiais ou bens tangíveis. O ato de estar presente emocionalmente, demonstrando cuidado, empatia e interesse genuíno na vida de outra pessoa, é mais valioso e significativo do que apenas dar presentes materiais sem um verdadeiro sentido de conexão.

As relações humanas são fundamentais em nossas vidas. A presença emocional e o suporte que oferecemos uns aos outros são aspectos essenciais para o bem-estar e a felicidade. Dar presentes materiais pode ser um gesto carinhoso, mas se não houver presença emocional e conexão, o valor desse presente pode ser significativamente reduzido.

A presença verdadeira exige autenticidade e sinceridade. É preciso estar disposto a ouvir, entender e compartilhar com os outros, sem máscaras ou interesses ocultos. Essa autenticidade é o que fortalece os laços entre as pessoas e cria um espaço de confiança mútua.

Estar presente envolve compartilhar momentos com alguém, dedicando tempo, atenção e energia para vivenciar experiências juntos. Isso pode criar memórias duradouras e significativas, que vão além da efemeridade dos presentes materiais.

A presença emocional nutre relacionamentos e possibilita um conhecimento mais profundo das pessoas que nos cercam. Isso cria uma base para o crescimento e o fortalecimento das conexões, enquanto presentes materiais podem ser momentâneos e não garantem uma conexão duradoura.

Precisamos valorizar o momento presente, estar consciente do agora e apreciar as pessoas enquanto elas estão ao nosso redor. A vida é passageira, e dar atenção e cuidado às pessoas que amamos é uma forma de celebrar e reconhecer o valor do tempo compartilhado.

O verdadeiro valor das nossas interações humanas reside na autenticidade, na conexão emocional e na dedicação mútua de tempo e atenção. Embora os presentes materiais possam ter seu lugar, é o investimento emocional que realmente enriquece nossas vidas e a daqueles com quem nos importamos.

sexta-feira, 21 de julho de 2023

O excesso de opções esgota nossa força de vontade

De acordo com algumas teorias psicológicas, a disponibilidade excessiva de opções pode ter um impacto negativo na nossa força de vontade e capacidade de tomar decisões. Esse fenômeno é conhecido como “fadiga de decisão” ou “paradoxo da escolha”.
Quando somos confrontados com um grande número de opções, nosso cérebro precisa gastar mais energia e tempo para avaliar cada uma delas. Isso pode levar a uma sensação de sobrecarga cognitiva, levando à fadiga mental. Consequentemente, nossa força de vontade e capacidade de tomar decisões de qualidade podem diminuir.
Além disso, ter muitas opções também pode levar a um maior arrependimento após a tomada de decisão. Quando percebemos que poderíamos ter escolhido algo melhor entre tantas opções, podemos nos sentir insatisfeitos com a escolha feita, o que afeta nossa motivação e confiança.
Uma possível estratégia para lidar com esse problema é simplificar as opções disponíveis. Ao reduzir a quantidade de escolhas, podemos concentrar nossa energia mental nas opções mais relevantes e importantes, facilitando a tomada de decisões. Além disso, estabelecer prioridades claras e definir critérios específicos de escolha também pode ajudar a reduzir a fadiga de decisão.
É importante ressaltar que a relação entre a quantidade de opções e a força de vontade pode variar de pessoa para pessoa. Algumas pessoas podem se sentir mais confortáveis com uma variedade maior de opções, enquanto outras preferem ter um conjunto mais limitado para facilitar a escolha. Cada indivíduo é único, e entender como você lida melhor com as opções é fundamental para tomar decisões de forma eficaz.

O que aprendi com o livro “A mente moralista: Por que as pessoas boas se separam por causa da política e da religião?”, de Jonathan Haidt…

 A divisão política estadunidense levou o psicólogo Jonathan Haidt a escrever esse livro, no qual ele traz uma série de razões que explicam a divisão entre liberais (esquerda) e conservadores (direita) naquele país. As ideias apresentadas no livro também valem para o Brasil, visto que nos últimos anos temos passado por uma divisão como a que lá ocorre.

O autor explica já no início do livro que nossa mente, e consequentemente nossa ações, funcionam de duas formas: uma racional e outra intuitiva (pode ser feito um paralelo ao que Daniel Kahneman explica muito bem no livro Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar).

Haidt usa a seguinte analogia para que possamos compreender a influência de ambas formas de pensar/agir em nosso comportamento: o lado intuitivo seria um grande elefante, enquanto o lado racional seria um condutor em cima desse elefante. Quando o elefante age impulsivamente ou sai do controle, não há muito o que o condutor possa fazer. Também não há como o condutor (razão) sair vencedor quando entra em conflito com o elefante (intuição). A partir daí ele apresenta uma série de estudos e argumentos sobre nossa moralidade (nosso juízo moral, nossos julgamentos), que é realizada quase sempre pelo elefante (intuição), e não pelo condutor (razão).

A evolução humana fez com que o condutor evoluísse apenas para servir ao seu elefante, e não o contrário. Essa frase do livro ilustra bem o pensamento do autor: “intuições vêm antes, raciocínio estratégico depois”. Esse comportamento acaba por reduzir nosso campo de visão em relação ao nosso entorno, dificultando o entendimento do todo.

Outra analogia utilizada pelo autor é: somos 90% primatas e 10% abelhas. Nos comportamos como 90% das vezes como primatas pois nos preocupamos mais em parecer que somos algo do que realmente nos preocupamos em ser aquilo. Ele cita como exemplo, a maioria de nós se preocupa mais em parecer ser bom do que realmente é bom, tal qual ocorre com a maioria dos primatas. Nos comportamos 10% das vezes como abelhas pois construímos sociedades morais fundamentadas em “normas, instituições e divindades” pelas quais somos capazes de lutar, matar e morrer para defendê-las, tal qual o comportamento das abelhas em relação à suas colmeias.

Ele usa a evolução biológica, social e filosófica da humanidade para embasar seu argumentos, elaborando teorias de como funcionava nossa mente quando ainda éramos caçadores-coletores; as mudanças que ocorreram com o advento da agricultura (mudança essa que acarretou numa concentração cada vez maior de pessoas em um espaço delimitado); a importância que a religião teve no desenvolvimento da moralidade e controle das ações humanas nas sociedades; o quanto o pensamento filosófico e sociológico influenciou essas sociedades.

Os mais diversos deuses foram “criados” pelos humanos para delimitar e controlar o comportamento em sociedade. Os deuses em sociedades maiores geralmente se preocupavam em controlar ações como “assassinatos, adultérios, falsos testemunhos e quebra de juramentos”, e como os deuses criados eram capazes de ver e saber de tudo, punindo trapaceiros e mentirosos, as religiões acabaram se tornando uma ferramenta eficaz para reduzir as desavenças dentro das sociedades humanas, permitindo assim a evolução tecnológica.

Durante nossa evolução, a reputação era mais importante do que a verdade, e isso nos influencia até hoje, principalmente na política e na religião. Prova disso são os diversos charlatões que ainda existem nestes dois campos. Indivíduos que eram bem quistos pelos demais membros do grupo tiveram uma chance maior de sobrevivência e deixaram para nós os genes desse comportamento. O autor usa o termo grupoísta para definir esse comportamento humano. Durante milhões de anos nossos antepassados buscaram juntar-se aos que eram mais parecidos com eles, formando grupos coesos e entrando em confronto com grupos diferentes.

É inevitável que cada sociedade seja diferente de outras, e que cada indivíduo dentro de uma mesma sociedade tenha sua particularidade, mas mesmo assim encontramos muitos pontos em comum nas ações desses indivíduos, principalmente no que tange a questão da moralidade. A ordenação desses indivíduos em uma sociedade deve obedecer a um conjunto básico de fatores para que ela funcione.

Os conflitos entre grupos que pensam diferente sempre existiu. O livro traz estudos que comprovam o seguinte: primeiro fazemos nossos julgamentos intuitivamente, baseado em toda nossa vivência, ainda que não de forma racional, e só posteriormente buscamos evidências para confirmar esses julgamentos. Isso acaba levando aos extremismos, atos que muitos não conseguem entender, pois são analisados sob um viés puramente racional, esquecendo-se do viés intuitivo, o predominante.

Haidt pensa que a empatia é o primeiro passo para lutar-se contra o moralismo fundamentalista, mesmo que a tarefa de simpatizar-se com indivíduos que tenham uma moralidade diferente da nossa seja uma tarefa muito difícil. O confronto, ainda que você utilize argumentos racionais, não levará a nenhuma mudança de pensamento/ação. Isso se estende aos mais diversos campos: da política à religião.

Sobre a política, o livro mostra que eleitores fanáticos são tão viciados nos argumentos aos quais estão constantemente expostos, e tem de fazer tantas contorções mentais para justificá-los, que acabam ficando livre das crenças contrárias e as consideram um absurdo. Por isso é tão difícil haver debate com fanáticos. Isso pode ser explicado também pelo viés da confirmação, quando o indivíduo já tem uma ideia pré-concebida sobre algo e não faz nada além de buscar quaisquer justificativas possíveis para confirmar o que pensa. Haidt sugere que há duas formas de mudar o pensamento extremista: lidando diretamente com o elefante (intuição) ou mudar o caminho percorrido pelo elefante com seu condutor (razão), mudando seu entorno.

Os políticos usam nossos valores morais para ganharem nosso voto e nosso dinheiro, eles são especialistas nisso. Enquanto para os políticos/eleitores de esquerda a justiça signifique igualdade, para os políticos/eleitores de direita ela significa proporcionalidade. Ver o mundo todo como uma unidade é mais difícil em sociedades WEIRD (Western, Educated, Industrialized, Rich, and Democratic – Ocidentais, Educadas, Industrializadas, Ricas e Democráticas). Pesquisas realizadas com pessoas WEIRD’s em diversos países mostraram que para essas pessoas a visão de mundo é mais focada no indivíduo do que no todo, ao contrário do que acontece em sociedades orientais, em grupos tribais e países em desenvolvimento. Isso ajuda a explicar porque políticos extremistas conservadores vem ganhando espaço nos países ocidentais.

Descobriu-se que os conservadores assim o são pois geralmente são criados por pais excessivamente rígidos ou porque temem a mudança, a novidade e a complexidade. Geralmente sofrem de medos existenciais, se apegando a uma visão simplista do mundo e se preocupando mais com seu grupo do que com o todo.

Já os liberais buscam mudar a organização social sem levar em consideração o peso que estas mudanças trariam para o capital moral. Para Haidt, esse é o ponto cego da esquerda. Enquanto liberais tentam mudar coisas demais em um tempo curto demais, reduzindo assim o estoque de capital moral existente, os conservadores não conseguem perceber que alguns interesses podem ser predatórios e não veem a necessidade de mudança que os novos tempos exigem.

O autor propõe que nossas decisões morais são tomadas levando-se em conta seis fundações morais: Cuidado, Justiça, Liberdade, Lealdade, Autoridade e Santidade. Enquanto os liberais (esquerda) tendem a focar mais nos três primeiros, os conservadores (direita) focam de forma quase equânime em todos os seis. Isso não só dificulta o diálogo entre as partes como também favorece o discurso conservador em eleições.

Por fim Haidt afirma que “a moralidade enlaça e cega”, nos juntando em grupos que “lutam uns contra os outros como se o destino do mundo dependesse de nosso lado vencer essa batalha”.

O livro traz muitos argumentos, baseados em estudos, para entender o momento político atual dos EUA (podemos usar para o Brasil) e de outros países do mundo. Não cabe num resumo tudo que o livro tem a oferecer. Por isso vale a pena a leitura se você tem interesse em tentar compreender um pouco do que está acontecendo…

O que aprendi com o livro “Subliminar: como o inconsciente influencia nossas vidas”, de Leonard Mlodinow…

 Compreender todos os meandros da subconsciência humana é, atualmente, uma tarefa impossível. Porém, já temos acesso a algumas informações sobre como nosso pensamento inconsciente influencia em nossas decisões. Este livro, de Leonard Mlodinow, reúne o que se sabia até 2012 sobre o tema, baseado em diversos estudos.

Nossos neurônios se comunicam através das sinapses em uma velocidade, e quantidade de conexões, inimaginável a nós. É incrível que “o sistema sensorial do homem envia ao cérebro cerca de 11 milhões de bits de informação por segundo”, e nós somos capazes de processar conscientemente apenas entre dezesseis e cinquenta bits por segundo. Não viveríamos nossas vidas adequadamente se processássemos grande parcela das informações que recebemos, nosso cérebro certamente travaria.

Por isso muito do que acontece em nossas mentes se dá na parte inconsciente do cérebro, em processos automáticos que fogem ao nosso controle, sem sequer termos a mínima noção disso, por uma questão de sobrevivência. A mente inconsciente trabalha em “muitos processos de percepção, memória, atenção, aprendizado”, para que possamos continuar vivendo sem maiores entraves.

Inconscientemente fazemos a maior parte dos julgamentos em nossas vidas: desde características físicas às sociológicas; julgamos desde livros pela capa até vestimentas de profissionais (afinal de contas, você confiaria sua saúde a um médico que lhe atendesse trajando camiseta e chinelos?). Estudos relatados no livro dizem que aos seis meses de idade o ser humano já faz julgamentos baseados na observação do comportamento social. Ainda bebês, já adquirimos a maior parte dos movimentos para expressar emoções, o que levaremos para toda a vida.

Nossa memória é afetada pelo tempo. Cada vez que recordamos, ou contamos um fato ocorrido, modificamos algumas pequenas partes, lacunas, deste fato. Com o passar do tempo podemos até mesmo criar memórias totalmente falsas. As lacunas da memória são preenchidas baseadas “em nossas expectativas, nos nossos sistemas de valores, de forma geral, e em nossos conhecimentos prévios”. Chegamos ao ponto de acreditar fielmente em nossas lembranças mesmo que sejam “fabricadas” pela nossa mente.

Nosso inconsciente é tão poderoso que dores emocionais se transformam em dor física, e por mais que busquemos explicações sobre isso, ainda não avançamos muito. Nosso cérebro evoluiu não para nos entendermos, mas sim para nos ajudar a sobreviver. Procurar conhecer-se com mais profundidade é ir além de nossa intuição.

O livro traz o conceito de in-group e out-group: os que pertencem aos nosso grupos e os demais, que estão de fora dos nossos grupos. Fazemos de tudo para proteger aqueles que pertencem aos nossos grupos. Para isso, a evolução legou-nos comportamentos sociais inconscientes, vestígio de nosso passado animal.

O gênero Homo evoluiu por cerca de 2 milhões de anos. Atingimos a nossa anatomia atual há cerca de 200 mil anos. Porém, nosso comportamento social, baseado na cultura, é um legado de apenas 50 mil anos. Nossa sociedade evoluiu a partir daí rapidamente, mas nosso cérebro ainda está nas cavernas.

A conexão social entre a espécie humana é tão forte, que testes realizados descobriram que estamos a apenas “seis graus de separação” de qualquer outro ser humano que vive na Terra. Ou seja, você conhece alguém, que conhece alguém, que conhece alguém, que conhece alguém, que conhece o/a ……… (complete com qualquer pessoa, viva, da qual você já ouvira falar).

Uma lição valiosa que aprendi no livro é que as expectativas, sejam elas positivas ou negativas, são capazes de influenciar no desempenho, desde o esportivo ao acadêmico. Por isso o preconceito é uma maldição tão difícil de se combater pois, “antes de alguém chegar a discutir qualquer assunto, a corrida já pode ter acabado, pois as aparências em si podem dar a um candidato grande vantagem inicial”.

A classificação, inclusive de pessoas, é uma estratégia do cérebro para  agilizar o processamento da grande quantidade de informações que recebemos e, quando nós classificamos algo, já estamos polarizando. Isso gera um exagero nas diferenciações: coisas “identificadas como pertencentes à mesma categoria parecem mais semelhantes entre si do que realmente são, enquanto as catalogadas em diferentes categorias parecem mais distintas do que são na verdade”. A mente inconsciente exagera diferenças que muitas vezes podem ser sutis. Por mais que avaliar outras pessoas possa parecer uma atividade racional, ela é influenciada muito mais por processos inconscientes e automáticos.

Como fazer para acabarmos com os preconceitos? Devemos nos esforçar para superar esses vieses inconscientes. Como? A classificação inconsciente é baseada em nossas experiências, então devemos ser expostos constantemente às diferenças, a características particulares com as quais não concordamos. A empatia é uma eficaz ferramenta para isso, sentir como se estivesse no lugar do outro traz uma percepção diferente que pode mudar a forma de pensar/agir.

Toda nossa vida é influenciada pelo inconsciente, a política, a ciência e o esporte também sofrem essa influência. Eis alguns exemplos: na política, pessoas que consideramos racionais buscam razões para continuar apoiando candidatos políticos mesmo quando acusados de comprovados deslizes; quando não querem acreditar em uma evidência científica, 1 milhão de estudos contrários não serão capazes de superar apenas 1 estudo que confirme o que a pessoa crê; no esporte, equipes vitoriosas, e seus torcedores, se entusiasmam após uma vitória, enquanto derrotados costumam sempre ignorar a qualidade do jogo de sua equipe e buscam fatores externos para comprovar sua derrota.

Por fim, por mais que o inconsciente influencia em todos os campos de nossas vidas, ainda somos capazes de escolher no que acreditar e as pessoas com as quais convivemos.

As valiosas lições que me vieram à memória durante uma caminhada do serviço à minha casa…

 Um dia, eu que tenho o hábito de ir de bicicleta ao trabalho, fui de carona com minha esposa logo cedo, então teria de voltar de ônibus após o expediente. Porém, de repente me bateu uma vontade de me movimentar. Decidi ir caminhando até em casa, um trajeto de quase 8km, passando em grande parte por um caminho que meu pai fizera por algum tempo quando jovem, para ir da casa dele até a escola. Durante a caminhada me veio à memória alguns valioso ensinamentos, que me foram passados através do seu exemplo.

Mesmo sob circunstâncias contrárias, ter de caminhar esse percurso, seja na poeira, na chuva ou no sol, subindo e descendo os mares de morros mineiros, a determinação de estudar, depois de ter escolhido ainda menino, esse caminho, transformou o menino Décio no primeiro de sua geração, criado na comunidade do Fundão, a se tornar um legítimo Doutor. Escolher o caminho e seguir adiante, independente das condições desfavoráveis, certamente é um dos maiores aprendizados que se pode ter na vida. Isso me mostra que todos os sonhos são trilhas possíveis de se percorrer, e não há distância longa ou difícil o bastante para te fazer desistir deles.
As suas caminhadas facilitaram, e muito, a minha caminhada e as dos meus irmãos. As trilhas que você abriu certamente nos tornou privilegiados para trilharmos nossos próprios caminhos. Aprender a agradecer tudo que temos, e principalmente por quem somos, foi outro aprendizado. Agradeço por toda dificuldade superada, por você ter dado o melhor de si para que pudéssemos ser o melhor de nós. Reconheço toda tua trajetória percorrida e sei o valor que tu dás a quem sempre lhe ajudou. Aprendi o valor de poder retribuir a essas pessoas. Tudo pelo que passou está arraigado na sua história, e isso ninguém pode lhe tirar. Tudo que me ensinou certamente será repassado aos meu sucessores, e serei eternamente grato a ti pelas trilhas que abriu para todos nós.
Você provavelmente não deixará herança patrimonial aos seus filhos. Porém, você formou sucessores. Pra mim isso é infinitamente mais valioso do que qualquer bem material. Os valores intrínsecos que recebi, como investir em conhecimento, determinação, honestidade, amor à sabedoria, respeito às diferenças, sensatez, dentre tantos outros, são muito valiosos e certamente serão repassados à minha filha. O que você tem nos deixado como legado permanecerá por mais gerações depois de ti. Esse legado é tão forte que se torna indestrutível e não há nada no mundo que seja capaz de destruí-lo.
Não se pode resumir 33 anos de lições aprendidas em apenas um texto. Mas essa é uma bela amostra do aprendizado que tenho tido com o meu maior mestre…

Reflexões sobre o livro “Meditações”, de Marco Aurélio…

 É importante, ao ler este livro, ter em mente que o autor era o homem mais poderoso do mundo quando escreveu estas frases. As escreveu em acampamentos enquanto liderava o exército romano durante batalhas. Em uma época na qual liderar um exército significava marchar junto com ele e ir ao campo de batalha. As palavras eram escritas para autoreflexão, Marco Aurélio não escreveu as notas pensando em publicação.

Escolha lutar somente aquelas que valem a pena. Você não tem energia nem tempo suficiente para lutar todas as batalhas. Simplifique. Saiba que independente de como esteja agora, isso vai passar, você vai mudar, as circustâncias mudarão. Seja virtuoso enquanto vive, afinal, ninguém viverá mais que cento e poucos anos. O fim chegará a todos, sem distinção alguma. Faça poucas coisas, mas as faça bem.

O filósofo busca a sabedoria constantemente, pois tem a noção de não possuí-la, em toda forma de conhecimento e em todos os lugares. Estude Filosofia de forma prática, dinâmica e atrativa, aprendendo com os grandes mestres da sabedoria a encontrar respostas para entender melhor a si mesmo e ao mundo. Pessoas passaram toda sua vida sintetizando seus pensamentos, aproveite. Eis uma mágica dos livros: você pode “entrar” na mente de outra pessoa, tentar ver o mundo com os olhos dela.

Você conviverá com pessoas boas e pessoas ruins, e tudo bem, você não sabe porque elas agem da forma como agem. Não consuma parte da vida que te resta fazendo conjecturas sobre outras pessoas. Não se importe com a opinião alheia, eles geralmente não conhecem teus caminhos e tuas batalhas. É uma grande perda de tempo e de energia estar sempre ocupado com as ações alheias. O elogio é sempre bem vindo e nos faz bem, mas não viva apegado somente a elogios.

“Nunca estimes como útil para ti o que um dia te forçará a transgredir tua fé, a renunciar ao pudor, a odiar alguém, a mostrar-te receoso, a maldizer, a fingir, a desejar algo que precisa de paredes e cortinas. Aja de forma honesta e verdadeira sempre. Você pode evitar suas próprias ações, mas não pode evitar a ação alheia.

Se acordares de má vontade e de forma preguiçosa, lembre-se: “desperto para cumprir uma tarefa própria de homem”, homem aqui no sentido de humano, não do gênero masculino. Nasceste para viver reclinado entre cobertores?

A mudança é temida? E que pode acontecer sem mudança? Existe algo mais querido e familiar à natureza do conjunto universal? Poderias tu mesmo lavar-te com água quente, se a lenha não se transformasse? Poderias alimentar-te se os alimentos não se transformassem? E outra coisa qualquer entre as úteis, poderia cumprir-se sem transformação? Não percebes, pois, que tua própria transformação é algo similar e igualmente necessária à natureza do conjunto universal? Aceite a mudança, ela é a única coisa constante na vida.

“Se te afliges por alguma causa externa, não é ela o que te importuna, mas o juízo que fazes dela. E depende de ti apagar esse juízo. Mas se te aflige algo que se encontra em tua disposição, quem te impede de retificar teu critério? E de igual modo, se te aflige por não executar essa ação que te parece sã, por que não a colocas em prática em vez de afligir-te”?

O livro tem muito a oferecer. Principalmente a quem tem simpatia pela filosofia estóica. Aqui está apenas um brevíssimo resumo das ideias que me são importantes neste livro…