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terça-feira, 17 de outubro de 2023

Amor a Deus e Ódio aos Seres Humanos?

A relação entre a devoção a Deus e o sentimento em relação aos seres humanos é um tópico filosófico fascinante e, muitas vezes, controverso. É surpreendente observar como, em algumas situações, indivíduos que afirmam amar profundamente a Deus também podem manifestar sentimentos de desagrado, julgamento ou mesmo hostilidade em relação aos seus semelhantes.

A devoção a Deus, seja qual for a religião ou fé em questão, é frequentemente caracterizada pela busca do bem, da verdade e da moral. Ela envolve o desejo de estar em harmonia com a vontade divina, buscar a elevação espiritual e viver de acordo com princípios éticos que promovam a compaixão, a bondade e a empatia. No entanto, esse ideal nem sempre se traduz em realidade.

Embora a devoção a Deus geralmente pregue o amor, a compaixão e a aceitação dos outros, é surpreendente notar como algumas pessoas que alegam amar a Deus podem demonstrar o oposto em relação aos seres humanos. Isso pode ser observado em atitudes como a intolerância religiosa, o preconceito, o julgamento e até a violência em nome da fé. Como reconciliar essa contradição?

Várias explicações podem ser oferecidas para essa aparente contradição. Em primeiro lugar, a natureza humana é complexa, e todos nós somos suscetíveis a falhas, incluindo aqueles que afirmam seguir uma fé religiosa. As emoções humanas, o condicionamento cultural e as experiências pessoais podem moldar a maneira como as pessoas interagem com os outros.

Além disso, a religião pode ser mal interpretada ou usada para justificar preconceitos e julgamentos. Aqueles que se sentem ameaçados por diferentes crenças podem se tornar defensivos ou hostis em relação aos que não compartilham sua fé.

Uma abordagem filosófica para resolver esse paradoxo é promover a compreensão e a empatia. A verdadeira devoção a Deus, segundo muitas tradições religiosas, deveria levar à compaixão e ao amor pelos outros seres humanos. Entender as motivações por trás das ações das pessoas, mesmo quando discordamos delas, pode ser um passo importante em direção à reconciliação desse conflito.

A aparente contradição entre o amor a Deus e a ojeriza aos seres humanos é um desafio filosófico complexo. No entanto, é importante lembrar que a devoção a Deus, quando entendida corretamente, deve inspirar a compaixão, a empatia e a aceitação dos outros. Ao reconhecer nossa natureza humana falível e buscar uma compreensão mais profunda, podemos trabalhar para superar essa contradição e viver de acordo com os ideais éticos e espirituais que muitas religiões pregam.

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

No final das contas, cada um de nós é apenas um soldado defendendo suas bandeiras...

No final das contas, cada um de nós se assemelha a um soldado destemido, erguendo nossas bandeiras com férrea convicção. Em todas as facetas da vida, desde as arduamente disputadas guerras de narrativas até os eletrizantes campos de competição esportiva, encontramos uma paixão inabalável em defender aquilo em que acreditamos.

Nas batalhas modernas, não são os tanques e as armas que ditam o curso dos acontecimentos, mas sim o poder das palavras e das ideias. A era da informação nos arremessou em uma contínua luta pela influência, onde as narrativas se erguem como as armas mais poderosas. Nas redes digitais e no palco público, engajamo-nos com ardor na defesa de nossas perspectivas, almejando cativar corações e mentes para nossa causa. Nestes duelos verbais, somos verdadeiros soldados das ideias, prontos para erguer nossos estandartes e defender com inabalável determinação nossas crenças e valores.

No universo esportivo, a competição assume o papel de uma guerra civilizada, onde equipes e atletas se confrontam no campo de jogo em busca da supremacia. Cada lado ostenta com orgulho suas cores e emblemas, e os torcedores se transformam em soldados da paixão, sustentando suas equipes com lealdade feroz, criando uma atmosfera de camaradagem que celebra cada conquista sob suas bandeiras.

Entretanto, mesmo na ardência das batalhas onde defendemos nossas bandeiras com fervor, é imperativo que recordemos que, ao final do dia, todos compartilhamos a mesma humanidade. Enquanto marchamos incansavelmente rumo aos nossos objetivos e erguemos nossas bandeiras com orgulho, precisamos nutrir a empatia e o respeito pelas diversas perspectivas que enriquecem nosso mundo.

No meio do caos das contendas intelectuais e das competições acirradas, não podemos perder de vista o fato de que, por trás de cada argumento ou lance, existem seres humanos com suas próprias histórias, aspirações e sonhos. A verdadeira grandeza de um soldado reside não apenas na intensidade com que defende suas bandeiras, mas também na capacidade de construir pontes, de buscar pontos de convergência e de fomentar uma compreensão mútua.

Dessa forma, nas guerras de narrativas e nos campos esportivos da vida, cada um de nós desempenha com paixão e dedicação o papel de soldado, honrando nossas bandeiras. Contudo, a vitória mais substancial reside na capacidade de transcender as divergências, na união sob a bandeira da humanidade compartilhada. Afinal, ao cabo de tudo, somos todos partícipes da mesma jornada, independentemente do lado em que nos encontramos no vasto campo de batalha da vida.

sexta-feira, 21 de julho de 2023

O que aprendi com o livro “Subliminar: como o inconsciente influencia nossas vidas”, de Leonard Mlodinow…

 Compreender todos os meandros da subconsciência humana é, atualmente, uma tarefa impossível. Porém, já temos acesso a algumas informações sobre como nosso pensamento inconsciente influencia em nossas decisões. Este livro, de Leonard Mlodinow, reúne o que se sabia até 2012 sobre o tema, baseado em diversos estudos.

Nossos neurônios se comunicam através das sinapses em uma velocidade, e quantidade de conexões, inimaginável a nós. É incrível que “o sistema sensorial do homem envia ao cérebro cerca de 11 milhões de bits de informação por segundo”, e nós somos capazes de processar conscientemente apenas entre dezesseis e cinquenta bits por segundo. Não viveríamos nossas vidas adequadamente se processássemos grande parcela das informações que recebemos, nosso cérebro certamente travaria.

Por isso muito do que acontece em nossas mentes se dá na parte inconsciente do cérebro, em processos automáticos que fogem ao nosso controle, sem sequer termos a mínima noção disso, por uma questão de sobrevivência. A mente inconsciente trabalha em “muitos processos de percepção, memória, atenção, aprendizado”, para que possamos continuar vivendo sem maiores entraves.

Inconscientemente fazemos a maior parte dos julgamentos em nossas vidas: desde características físicas às sociológicas; julgamos desde livros pela capa até vestimentas de profissionais (afinal de contas, você confiaria sua saúde a um médico que lhe atendesse trajando camiseta e chinelos?). Estudos relatados no livro dizem que aos seis meses de idade o ser humano já faz julgamentos baseados na observação do comportamento social. Ainda bebês, já adquirimos a maior parte dos movimentos para expressar emoções, o que levaremos para toda a vida.

Nossa memória é afetada pelo tempo. Cada vez que recordamos, ou contamos um fato ocorrido, modificamos algumas pequenas partes, lacunas, deste fato. Com o passar do tempo podemos até mesmo criar memórias totalmente falsas. As lacunas da memória são preenchidas baseadas “em nossas expectativas, nos nossos sistemas de valores, de forma geral, e em nossos conhecimentos prévios”. Chegamos ao ponto de acreditar fielmente em nossas lembranças mesmo que sejam “fabricadas” pela nossa mente.

Nosso inconsciente é tão poderoso que dores emocionais se transformam em dor física, e por mais que busquemos explicações sobre isso, ainda não avançamos muito. Nosso cérebro evoluiu não para nos entendermos, mas sim para nos ajudar a sobreviver. Procurar conhecer-se com mais profundidade é ir além de nossa intuição.

O livro traz o conceito de in-group e out-group: os que pertencem aos nosso grupos e os demais, que estão de fora dos nossos grupos. Fazemos de tudo para proteger aqueles que pertencem aos nossos grupos. Para isso, a evolução legou-nos comportamentos sociais inconscientes, vestígio de nosso passado animal.

O gênero Homo evoluiu por cerca de 2 milhões de anos. Atingimos a nossa anatomia atual há cerca de 200 mil anos. Porém, nosso comportamento social, baseado na cultura, é um legado de apenas 50 mil anos. Nossa sociedade evoluiu a partir daí rapidamente, mas nosso cérebro ainda está nas cavernas.

A conexão social entre a espécie humana é tão forte, que testes realizados descobriram que estamos a apenas “seis graus de separação” de qualquer outro ser humano que vive na Terra. Ou seja, você conhece alguém, que conhece alguém, que conhece alguém, que conhece alguém, que conhece o/a ……… (complete com qualquer pessoa, viva, da qual você já ouvira falar).

Uma lição valiosa que aprendi no livro é que as expectativas, sejam elas positivas ou negativas, são capazes de influenciar no desempenho, desde o esportivo ao acadêmico. Por isso o preconceito é uma maldição tão difícil de se combater pois, “antes de alguém chegar a discutir qualquer assunto, a corrida já pode ter acabado, pois as aparências em si podem dar a um candidato grande vantagem inicial”.

A classificação, inclusive de pessoas, é uma estratégia do cérebro para  agilizar o processamento da grande quantidade de informações que recebemos e, quando nós classificamos algo, já estamos polarizando. Isso gera um exagero nas diferenciações: coisas “identificadas como pertencentes à mesma categoria parecem mais semelhantes entre si do que realmente são, enquanto as catalogadas em diferentes categorias parecem mais distintas do que são na verdade”. A mente inconsciente exagera diferenças que muitas vezes podem ser sutis. Por mais que avaliar outras pessoas possa parecer uma atividade racional, ela é influenciada muito mais por processos inconscientes e automáticos.

Como fazer para acabarmos com os preconceitos? Devemos nos esforçar para superar esses vieses inconscientes. Como? A classificação inconsciente é baseada em nossas experiências, então devemos ser expostos constantemente às diferenças, a características particulares com as quais não concordamos. A empatia é uma eficaz ferramenta para isso, sentir como se estivesse no lugar do outro traz uma percepção diferente que pode mudar a forma de pensar/agir.

Toda nossa vida é influenciada pelo inconsciente, a política, a ciência e o esporte também sofrem essa influência. Eis alguns exemplos: na política, pessoas que consideramos racionais buscam razões para continuar apoiando candidatos políticos mesmo quando acusados de comprovados deslizes; quando não querem acreditar em uma evidência científica, 1 milhão de estudos contrários não serão capazes de superar apenas 1 estudo que confirme o que a pessoa crê; no esporte, equipes vitoriosas, e seus torcedores, se entusiasmam após uma vitória, enquanto derrotados costumam sempre ignorar a qualidade do jogo de sua equipe e buscam fatores externos para comprovar sua derrota.

Por fim, por mais que o inconsciente influencia em todos os campos de nossas vidas, ainda somos capazes de escolher no que acreditar e as pessoas com as quais convivemos.