Mostrando postagens com marcador Intuição. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Intuição. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 21 de julho de 2023

O que aprendi com o livro “A mente moralista: Por que as pessoas boas se separam por causa da política e da religião?”, de Jonathan Haidt…

 A divisão política estadunidense levou o psicólogo Jonathan Haidt a escrever esse livro, no qual ele traz uma série de razões que explicam a divisão entre liberais (esquerda) e conservadores (direita) naquele país. As ideias apresentadas no livro também valem para o Brasil, visto que nos últimos anos temos passado por uma divisão como a que lá ocorre.

O autor explica já no início do livro que nossa mente, e consequentemente nossa ações, funcionam de duas formas: uma racional e outra intuitiva (pode ser feito um paralelo ao que Daniel Kahneman explica muito bem no livro Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar).

Haidt usa a seguinte analogia para que possamos compreender a influência de ambas formas de pensar/agir em nosso comportamento: o lado intuitivo seria um grande elefante, enquanto o lado racional seria um condutor em cima desse elefante. Quando o elefante age impulsivamente ou sai do controle, não há muito o que o condutor possa fazer. Também não há como o condutor (razão) sair vencedor quando entra em conflito com o elefante (intuição). A partir daí ele apresenta uma série de estudos e argumentos sobre nossa moralidade (nosso juízo moral, nossos julgamentos), que é realizada quase sempre pelo elefante (intuição), e não pelo condutor (razão).

A evolução humana fez com que o condutor evoluísse apenas para servir ao seu elefante, e não o contrário. Essa frase do livro ilustra bem o pensamento do autor: “intuições vêm antes, raciocínio estratégico depois”. Esse comportamento acaba por reduzir nosso campo de visão em relação ao nosso entorno, dificultando o entendimento do todo.

Outra analogia utilizada pelo autor é: somos 90% primatas e 10% abelhas. Nos comportamos como 90% das vezes como primatas pois nos preocupamos mais em parecer que somos algo do que realmente nos preocupamos em ser aquilo. Ele cita como exemplo, a maioria de nós se preocupa mais em parecer ser bom do que realmente é bom, tal qual ocorre com a maioria dos primatas. Nos comportamos 10% das vezes como abelhas pois construímos sociedades morais fundamentadas em “normas, instituições e divindades” pelas quais somos capazes de lutar, matar e morrer para defendê-las, tal qual o comportamento das abelhas em relação à suas colmeias.

Ele usa a evolução biológica, social e filosófica da humanidade para embasar seu argumentos, elaborando teorias de como funcionava nossa mente quando ainda éramos caçadores-coletores; as mudanças que ocorreram com o advento da agricultura (mudança essa que acarretou numa concentração cada vez maior de pessoas em um espaço delimitado); a importância que a religião teve no desenvolvimento da moralidade e controle das ações humanas nas sociedades; o quanto o pensamento filosófico e sociológico influenciou essas sociedades.

Os mais diversos deuses foram “criados” pelos humanos para delimitar e controlar o comportamento em sociedade. Os deuses em sociedades maiores geralmente se preocupavam em controlar ações como “assassinatos, adultérios, falsos testemunhos e quebra de juramentos”, e como os deuses criados eram capazes de ver e saber de tudo, punindo trapaceiros e mentirosos, as religiões acabaram se tornando uma ferramenta eficaz para reduzir as desavenças dentro das sociedades humanas, permitindo assim a evolução tecnológica.

Durante nossa evolução, a reputação era mais importante do que a verdade, e isso nos influencia até hoje, principalmente na política e na religião. Prova disso são os diversos charlatões que ainda existem nestes dois campos. Indivíduos que eram bem quistos pelos demais membros do grupo tiveram uma chance maior de sobrevivência e deixaram para nós os genes desse comportamento. O autor usa o termo grupoísta para definir esse comportamento humano. Durante milhões de anos nossos antepassados buscaram juntar-se aos que eram mais parecidos com eles, formando grupos coesos e entrando em confronto com grupos diferentes.

É inevitável que cada sociedade seja diferente de outras, e que cada indivíduo dentro de uma mesma sociedade tenha sua particularidade, mas mesmo assim encontramos muitos pontos em comum nas ações desses indivíduos, principalmente no que tange a questão da moralidade. A ordenação desses indivíduos em uma sociedade deve obedecer a um conjunto básico de fatores para que ela funcione.

Os conflitos entre grupos que pensam diferente sempre existiu. O livro traz estudos que comprovam o seguinte: primeiro fazemos nossos julgamentos intuitivamente, baseado em toda nossa vivência, ainda que não de forma racional, e só posteriormente buscamos evidências para confirmar esses julgamentos. Isso acaba levando aos extremismos, atos que muitos não conseguem entender, pois são analisados sob um viés puramente racional, esquecendo-se do viés intuitivo, o predominante.

Haidt pensa que a empatia é o primeiro passo para lutar-se contra o moralismo fundamentalista, mesmo que a tarefa de simpatizar-se com indivíduos que tenham uma moralidade diferente da nossa seja uma tarefa muito difícil. O confronto, ainda que você utilize argumentos racionais, não levará a nenhuma mudança de pensamento/ação. Isso se estende aos mais diversos campos: da política à religião.

Sobre a política, o livro mostra que eleitores fanáticos são tão viciados nos argumentos aos quais estão constantemente expostos, e tem de fazer tantas contorções mentais para justificá-los, que acabam ficando livre das crenças contrárias e as consideram um absurdo. Por isso é tão difícil haver debate com fanáticos. Isso pode ser explicado também pelo viés da confirmação, quando o indivíduo já tem uma ideia pré-concebida sobre algo e não faz nada além de buscar quaisquer justificativas possíveis para confirmar o que pensa. Haidt sugere que há duas formas de mudar o pensamento extremista: lidando diretamente com o elefante (intuição) ou mudar o caminho percorrido pelo elefante com seu condutor (razão), mudando seu entorno.

Os políticos usam nossos valores morais para ganharem nosso voto e nosso dinheiro, eles são especialistas nisso. Enquanto para os políticos/eleitores de esquerda a justiça signifique igualdade, para os políticos/eleitores de direita ela significa proporcionalidade. Ver o mundo todo como uma unidade é mais difícil em sociedades WEIRD (Western, Educated, Industrialized, Rich, and Democratic – Ocidentais, Educadas, Industrializadas, Ricas e Democráticas). Pesquisas realizadas com pessoas WEIRD’s em diversos países mostraram que para essas pessoas a visão de mundo é mais focada no indivíduo do que no todo, ao contrário do que acontece em sociedades orientais, em grupos tribais e países em desenvolvimento. Isso ajuda a explicar porque políticos extremistas conservadores vem ganhando espaço nos países ocidentais.

Descobriu-se que os conservadores assim o são pois geralmente são criados por pais excessivamente rígidos ou porque temem a mudança, a novidade e a complexidade. Geralmente sofrem de medos existenciais, se apegando a uma visão simplista do mundo e se preocupando mais com seu grupo do que com o todo.

Já os liberais buscam mudar a organização social sem levar em consideração o peso que estas mudanças trariam para o capital moral. Para Haidt, esse é o ponto cego da esquerda. Enquanto liberais tentam mudar coisas demais em um tempo curto demais, reduzindo assim o estoque de capital moral existente, os conservadores não conseguem perceber que alguns interesses podem ser predatórios e não veem a necessidade de mudança que os novos tempos exigem.

O autor propõe que nossas decisões morais são tomadas levando-se em conta seis fundações morais: Cuidado, Justiça, Liberdade, Lealdade, Autoridade e Santidade. Enquanto os liberais (esquerda) tendem a focar mais nos três primeiros, os conservadores (direita) focam de forma quase equânime em todos os seis. Isso não só dificulta o diálogo entre as partes como também favorece o discurso conservador em eleições.

Por fim Haidt afirma que “a moralidade enlaça e cega”, nos juntando em grupos que “lutam uns contra os outros como se o destino do mundo dependesse de nosso lado vencer essa batalha”.

O livro traz muitos argumentos, baseados em estudos, para entender o momento político atual dos EUA (podemos usar para o Brasil) e de outros países do mundo. Não cabe num resumo tudo que o livro tem a oferecer. Por isso vale a pena a leitura se você tem interesse em tentar compreender um pouco do que está acontecendo…

O que aprendi com o livro “Subliminar: como o inconsciente influencia nossas vidas”, de Leonard Mlodinow…

 Compreender todos os meandros da subconsciência humana é, atualmente, uma tarefa impossível. Porém, já temos acesso a algumas informações sobre como nosso pensamento inconsciente influencia em nossas decisões. Este livro, de Leonard Mlodinow, reúne o que se sabia até 2012 sobre o tema, baseado em diversos estudos.

Nossos neurônios se comunicam através das sinapses em uma velocidade, e quantidade de conexões, inimaginável a nós. É incrível que “o sistema sensorial do homem envia ao cérebro cerca de 11 milhões de bits de informação por segundo”, e nós somos capazes de processar conscientemente apenas entre dezesseis e cinquenta bits por segundo. Não viveríamos nossas vidas adequadamente se processássemos grande parcela das informações que recebemos, nosso cérebro certamente travaria.

Por isso muito do que acontece em nossas mentes se dá na parte inconsciente do cérebro, em processos automáticos que fogem ao nosso controle, sem sequer termos a mínima noção disso, por uma questão de sobrevivência. A mente inconsciente trabalha em “muitos processos de percepção, memória, atenção, aprendizado”, para que possamos continuar vivendo sem maiores entraves.

Inconscientemente fazemos a maior parte dos julgamentos em nossas vidas: desde características físicas às sociológicas; julgamos desde livros pela capa até vestimentas de profissionais (afinal de contas, você confiaria sua saúde a um médico que lhe atendesse trajando camiseta e chinelos?). Estudos relatados no livro dizem que aos seis meses de idade o ser humano já faz julgamentos baseados na observação do comportamento social. Ainda bebês, já adquirimos a maior parte dos movimentos para expressar emoções, o que levaremos para toda a vida.

Nossa memória é afetada pelo tempo. Cada vez que recordamos, ou contamos um fato ocorrido, modificamos algumas pequenas partes, lacunas, deste fato. Com o passar do tempo podemos até mesmo criar memórias totalmente falsas. As lacunas da memória são preenchidas baseadas “em nossas expectativas, nos nossos sistemas de valores, de forma geral, e em nossos conhecimentos prévios”. Chegamos ao ponto de acreditar fielmente em nossas lembranças mesmo que sejam “fabricadas” pela nossa mente.

Nosso inconsciente é tão poderoso que dores emocionais se transformam em dor física, e por mais que busquemos explicações sobre isso, ainda não avançamos muito. Nosso cérebro evoluiu não para nos entendermos, mas sim para nos ajudar a sobreviver. Procurar conhecer-se com mais profundidade é ir além de nossa intuição.

O livro traz o conceito de in-group e out-group: os que pertencem aos nosso grupos e os demais, que estão de fora dos nossos grupos. Fazemos de tudo para proteger aqueles que pertencem aos nossos grupos. Para isso, a evolução legou-nos comportamentos sociais inconscientes, vestígio de nosso passado animal.

O gênero Homo evoluiu por cerca de 2 milhões de anos. Atingimos a nossa anatomia atual há cerca de 200 mil anos. Porém, nosso comportamento social, baseado na cultura, é um legado de apenas 50 mil anos. Nossa sociedade evoluiu a partir daí rapidamente, mas nosso cérebro ainda está nas cavernas.

A conexão social entre a espécie humana é tão forte, que testes realizados descobriram que estamos a apenas “seis graus de separação” de qualquer outro ser humano que vive na Terra. Ou seja, você conhece alguém, que conhece alguém, que conhece alguém, que conhece alguém, que conhece o/a ……… (complete com qualquer pessoa, viva, da qual você já ouvira falar).

Uma lição valiosa que aprendi no livro é que as expectativas, sejam elas positivas ou negativas, são capazes de influenciar no desempenho, desde o esportivo ao acadêmico. Por isso o preconceito é uma maldição tão difícil de se combater pois, “antes de alguém chegar a discutir qualquer assunto, a corrida já pode ter acabado, pois as aparências em si podem dar a um candidato grande vantagem inicial”.

A classificação, inclusive de pessoas, é uma estratégia do cérebro para  agilizar o processamento da grande quantidade de informações que recebemos e, quando nós classificamos algo, já estamos polarizando. Isso gera um exagero nas diferenciações: coisas “identificadas como pertencentes à mesma categoria parecem mais semelhantes entre si do que realmente são, enquanto as catalogadas em diferentes categorias parecem mais distintas do que são na verdade”. A mente inconsciente exagera diferenças que muitas vezes podem ser sutis. Por mais que avaliar outras pessoas possa parecer uma atividade racional, ela é influenciada muito mais por processos inconscientes e automáticos.

Como fazer para acabarmos com os preconceitos? Devemos nos esforçar para superar esses vieses inconscientes. Como? A classificação inconsciente é baseada em nossas experiências, então devemos ser expostos constantemente às diferenças, a características particulares com as quais não concordamos. A empatia é uma eficaz ferramenta para isso, sentir como se estivesse no lugar do outro traz uma percepção diferente que pode mudar a forma de pensar/agir.

Toda nossa vida é influenciada pelo inconsciente, a política, a ciência e o esporte também sofrem essa influência. Eis alguns exemplos: na política, pessoas que consideramos racionais buscam razões para continuar apoiando candidatos políticos mesmo quando acusados de comprovados deslizes; quando não querem acreditar em uma evidência científica, 1 milhão de estudos contrários não serão capazes de superar apenas 1 estudo que confirme o que a pessoa crê; no esporte, equipes vitoriosas, e seus torcedores, se entusiasmam após uma vitória, enquanto derrotados costumam sempre ignorar a qualidade do jogo de sua equipe e buscam fatores externos para comprovar sua derrota.

Por fim, por mais que o inconsciente influencia em todos os campos de nossas vidas, ainda somos capazes de escolher no que acreditar e as pessoas com as quais convivemos.