quinta-feira, 27 de julho de 2023

A vida, assim como a natureza, acontece nos detalhes


Hoje ao acordar, vi nosso pezinho de jabuticaba repleto de abelhas. Isso me fez pensar em algumas coisas...

Nossa existência é um intrincado emaranhado de momentos, experiências e emoções que, muitas vezes, passam despercebidos em meio à correria do cotidiano. No entanto, assim como a natureza revela sua grandeza por meio das sutilezas, a vida também se desdobra nos pequenos detalhes que, juntos, compõem uma jornada única e especial. Neste artigo, vamos explorar como as pequenas abelhas polinizando um pezinho de jabuticaba podem ser uma metáfora poderosa para compreendermos a beleza da existência.

A natureza é uma mestra sábia, e se observarmos com atenção, encontraremos lições valiosas em cada canto. As abelhas, por exemplo, desempenham um papel fundamental na polinização das flores, permitindo que as plantas frutifiquem e perpetuem sua espécie. Esse ato aparentemente pequeno é, na verdade, essencial para a sustentabilidade do ecossistema. A abelha trabalha incansavelmente para coletar o néctar da flor, que será usado para produzir o mel. O pé de jabuticaba, por sua vez, se beneficia da polinização para produzir seus frutos deliciosos. Essa interação entre a abelha e o pé de jabuticaba é um microcosmo da vida.

Todos nós somos interdependentes e precisamos uns dos outros para sobreviver e prosperar. As abelhas precisam das flores para coletar néctar, e as flores precisam das abelhas para serem polinizadas. Analogamente, em nossas vidas, os pequenos gestos, sorrisos e ações têm o poder de criar conexões significativas e transformar o ambiente ao nosso redor.

Muitas vezes, estamos tão concentrados nos eventos marcantes que deixamos passar a beleza escondida nos detalhes. Um elogio sincero, um abraço caloroso, um "bão dia", um momento de contemplação em meio à natureza - essas são as sutilezas que preenchem nossa existência. Assim como a abelha que voa de flor em flor, cada pequeno momento pode deixar um rastro de doçura em nossas vidas.

A vida cotidiana pode parecer monótona, mas é exatamente nesse cenário aparentemente comum que reside uma riqueza extraordinária. Assim como a natureza se renova a cada estação, nós também temos a oportunidade de crescer, aprender e nos transformar diariamente. Cada dia é uma página em branco esperando para ser preenchida com novas experiências, desafios e descobertas.

Quando apreciamos os pequenos detalhes da vida, estamos nos conectando com a natureza e com o mundo ao nosso redor. Estamos nos tornando mais conscientes da nossa interdependência com os outros e com o planeta. E isso nos faz mais felizes e mais completos.

Assim como uma jabuticabeira cresce aos poucos, da semente à árvore frondosa, nossa vida também é uma jornada progressiva. Os sonhos, metas e realizações são construídos passo a passo, com dedicação e paciência. A felicidade não reside apenas no destino final, mas na trajetória que percorremos para alcançá-lo.

Ao contemplarmos a delicada dança das abelhas entre as flores, somos lembrados de que a vida é uma preciosidade composta por inúmeros detalhes. Cada gesto, encontro e aprendizado contribui para moldar nossa existência e influenciar aqueles ao nosso redor. Abrace a magia dos detalhes, encontrando beleza nas coisas simples e valorizando o cotidiano como parte integrante dessa jornada fascinante que é a vida.

Aproveite cada instante e permita-se sentir a doçura e a complexidade que residem nas pequenas alegrias do dia a dia. E lembre-se sempre de que, assim como a natureza floresce por meio das sutilezas, sua vida também é uma celebração de pequenas conquistas que a tornam única e especial.

A vida é curta demais para se apegar apenas às coisas grandes e grandiosas. Foque nos pequenos detalhes, e você verá que a vida é muito mais bonita e gratificante do que você imaginava.

quarta-feira, 26 de julho de 2023

“A posse do domínio das situações significa uma verdadeira liberação, quando é conseguida sob os auspícios insubstituíveis da confiança em si mesmo, ou seja, das próprias defesas mentais”, O Mecanismo da Vida Consciente - Pecotche

Esse pensamento enfatiza a importância do domínio das situações como uma forma de liberação pessoal, desde que esse domínio seja conquistado com base na confiança em si mesmo e no fortalecimento das defesas mentais. Vamos analisar os elementos-chave desse pensamento:

Posse do domínio das situações: Isso sugere que ter controle sobre as circunstâncias, contextos ou desafios da vida é uma qualidade valiosa. Quando se possui o domínio das situações, é possível agir de maneira mais eficaz e tomar decisões melhores.

Liberação pessoal: O termo "liberação" pode ser entendido como uma sensação de liberdade ou emancipação. Nesse contexto, adquirir controle sobre as situações da vida pode levar a uma sensação de realização e bem-estar pessoal.

Confiança em si mesmo: A confiança em si mesmo é uma qualidade psicológica crucial. Ter confiança em suas habilidades e capacidades permite enfrentar desafios de maneira mais assertiva e resiliente.

Próprias defesas mentais: Defesas mentais são mecanismos psicológicos que ajudam a lidar com adversidades, proteger-se de influências negativas e manter a estabilidade emocional.

A posse do domínio das situações pode ser um fator importante para alcançar uma sensação de liberação ou liberdade pessoal. No entanto, esse domínio só é verdadeiramente alcançado quando baseado na confiança em si mesmo e em habilidades mentais para lidar com os desafios que surgem ao longo da vida.

Embora seja uma ideia interessante, é importante notar que a vida é complexa e nem sempre temos controle total sobre todas as situações. Algumas circunstâncias podem estar além do nosso controle e exigir adaptação e resiliência. Além disso, é crucial equilibrar a confiança em si mesmo com a humildade e estar aberto a aprender com os outros e com os desafios que enfrentamos.

terça-feira, 25 de julho de 2023

"Não é preciso muita consideração para concluir que muitas coisas no mundo estão além do controle humano", Uma introdução à filosofia budista - Stephen J. Laumakis

A frase aborda a noção de limitação e impotência do ser humano diante de diversos aspectos da existência.

Inevitabilidade da realidade: Há aspectos da realidade que são inevitáveis e que não podemos controlar, independentemente de nossos desejos ou esforços. Isso pode se referir a fenômenos naturais, acontecimentos imprevisíveis ou mesmo à natureza humana, que muitas vezes apresenta limitações e incertezas.

Humildade perante o desconhecido: A frase ressalta a importância de reconhecer a nossa própria limitação e impotência diante do desconhecido e do incontrolável. Ela nos convida a uma postura de humildade diante das forças que estão além de nosso alcance, evitando a arrogância de acreditar que podemos controlar tudo ao nosso redor.

Reflexão sobre o destino e livre-arbítrio: Levanta questões filosóficas sobre o equilíbrio entre o destino e o livre-arbítrio. Se muitas coisas estão além do controle humano, isso pode levar a questionamentos sobre o quão livre é a nossa vontade diante das circunstâncias que nos cercam.

Aceitação da incerteza: A frase sugere a necessidade de aceitar a existência da incerteza na vida. Nem tudo é previsível ou controlável, e essa realidade pode gerar desconforto e ansiedade. Aceitar a incerteza é uma forma de lidar com a natureza imprevisível do mundo.

Consciência da complexidade do mundo: Reconhecer que muitas coisas estão além do controle humano é também reconhecer a complexidade do mundo em que vivemos. O mundo é repleto de sistemas interconectados e fenômenos que não podem ser completamente compreendidos ou controlados por uma única entidade.

Devemos refletir sobre nossa condição humana e reconhecer nossas limitações diante de um mundo que é vasto, complexo e muitas vezes imprevisível. Isso não significa que não tenhamos influência ou responsabilidade sobre o que acontece, mas sim que precisamos reconhecer a humildade diante das coisas que estão além do nosso controle e desenvolver uma postura de aceitação e respeito pela vastidão e imprevisibilidade da existência. 

segunda-feira, 24 de julho de 2023

Estar presente é mais importante do que dar presentes

Estar presente é mais importante do que dar presente destaca a importância do verdadeiro envolvimento emocional e atenção dedicada a alguém, em oposição a simplesmente oferecer presentes materiais ou bens tangíveis. O ato de estar presente emocionalmente, demonstrando cuidado, empatia e interesse genuíno na vida de outra pessoa, é mais valioso e significativo do que apenas dar presentes materiais sem um verdadeiro sentido de conexão.

As relações humanas são fundamentais em nossas vidas. A presença emocional e o suporte que oferecemos uns aos outros são aspectos essenciais para o bem-estar e a felicidade. Dar presentes materiais pode ser um gesto carinhoso, mas se não houver presença emocional e conexão, o valor desse presente pode ser significativamente reduzido.

A presença verdadeira exige autenticidade e sinceridade. É preciso estar disposto a ouvir, entender e compartilhar com os outros, sem máscaras ou interesses ocultos. Essa autenticidade é o que fortalece os laços entre as pessoas e cria um espaço de confiança mútua.

Estar presente envolve compartilhar momentos com alguém, dedicando tempo, atenção e energia para vivenciar experiências juntos. Isso pode criar memórias duradouras e significativas, que vão além da efemeridade dos presentes materiais.

A presença emocional nutre relacionamentos e possibilita um conhecimento mais profundo das pessoas que nos cercam. Isso cria uma base para o crescimento e o fortalecimento das conexões, enquanto presentes materiais podem ser momentâneos e não garantem uma conexão duradoura.

Precisamos valorizar o momento presente, estar consciente do agora e apreciar as pessoas enquanto elas estão ao nosso redor. A vida é passageira, e dar atenção e cuidado às pessoas que amamos é uma forma de celebrar e reconhecer o valor do tempo compartilhado.

O verdadeiro valor das nossas interações humanas reside na autenticidade, na conexão emocional e na dedicação mútua de tempo e atenção. Embora os presentes materiais possam ter seu lugar, é o investimento emocional que realmente enriquece nossas vidas e a daqueles com quem nos importamos.

sexta-feira, 21 de julho de 2023

O excesso de opções esgota nossa força de vontade

De acordo com algumas teorias psicológicas, a disponibilidade excessiva de opções pode ter um impacto negativo na nossa força de vontade e capacidade de tomar decisões. Esse fenômeno é conhecido como “fadiga de decisão” ou “paradoxo da escolha”.
Quando somos confrontados com um grande número de opções, nosso cérebro precisa gastar mais energia e tempo para avaliar cada uma delas. Isso pode levar a uma sensação de sobrecarga cognitiva, levando à fadiga mental. Consequentemente, nossa força de vontade e capacidade de tomar decisões de qualidade podem diminuir.
Além disso, ter muitas opções também pode levar a um maior arrependimento após a tomada de decisão. Quando percebemos que poderíamos ter escolhido algo melhor entre tantas opções, podemos nos sentir insatisfeitos com a escolha feita, o que afeta nossa motivação e confiança.
Uma possível estratégia para lidar com esse problema é simplificar as opções disponíveis. Ao reduzir a quantidade de escolhas, podemos concentrar nossa energia mental nas opções mais relevantes e importantes, facilitando a tomada de decisões. Além disso, estabelecer prioridades claras e definir critérios específicos de escolha também pode ajudar a reduzir a fadiga de decisão.
É importante ressaltar que a relação entre a quantidade de opções e a força de vontade pode variar de pessoa para pessoa. Algumas pessoas podem se sentir mais confortáveis com uma variedade maior de opções, enquanto outras preferem ter um conjunto mais limitado para facilitar a escolha. Cada indivíduo é único, e entender como você lida melhor com as opções é fundamental para tomar decisões de forma eficaz.

O que aprendi com o livro “A mente moralista: Por que as pessoas boas se separam por causa da política e da religião?”, de Jonathan Haidt…

 A divisão política estadunidense levou o psicólogo Jonathan Haidt a escrever esse livro, no qual ele traz uma série de razões que explicam a divisão entre liberais (esquerda) e conservadores (direita) naquele país. As ideias apresentadas no livro também valem para o Brasil, visto que nos últimos anos temos passado por uma divisão como a que lá ocorre.

O autor explica já no início do livro que nossa mente, e consequentemente nossa ações, funcionam de duas formas: uma racional e outra intuitiva (pode ser feito um paralelo ao que Daniel Kahneman explica muito bem no livro Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar).

Haidt usa a seguinte analogia para que possamos compreender a influência de ambas formas de pensar/agir em nosso comportamento: o lado intuitivo seria um grande elefante, enquanto o lado racional seria um condutor em cima desse elefante. Quando o elefante age impulsivamente ou sai do controle, não há muito o que o condutor possa fazer. Também não há como o condutor (razão) sair vencedor quando entra em conflito com o elefante (intuição). A partir daí ele apresenta uma série de estudos e argumentos sobre nossa moralidade (nosso juízo moral, nossos julgamentos), que é realizada quase sempre pelo elefante (intuição), e não pelo condutor (razão).

A evolução humana fez com que o condutor evoluísse apenas para servir ao seu elefante, e não o contrário. Essa frase do livro ilustra bem o pensamento do autor: “intuições vêm antes, raciocínio estratégico depois”. Esse comportamento acaba por reduzir nosso campo de visão em relação ao nosso entorno, dificultando o entendimento do todo.

Outra analogia utilizada pelo autor é: somos 90% primatas e 10% abelhas. Nos comportamos como 90% das vezes como primatas pois nos preocupamos mais em parecer que somos algo do que realmente nos preocupamos em ser aquilo. Ele cita como exemplo, a maioria de nós se preocupa mais em parecer ser bom do que realmente é bom, tal qual ocorre com a maioria dos primatas. Nos comportamos 10% das vezes como abelhas pois construímos sociedades morais fundamentadas em “normas, instituições e divindades” pelas quais somos capazes de lutar, matar e morrer para defendê-las, tal qual o comportamento das abelhas em relação à suas colmeias.

Ele usa a evolução biológica, social e filosófica da humanidade para embasar seu argumentos, elaborando teorias de como funcionava nossa mente quando ainda éramos caçadores-coletores; as mudanças que ocorreram com o advento da agricultura (mudança essa que acarretou numa concentração cada vez maior de pessoas em um espaço delimitado); a importância que a religião teve no desenvolvimento da moralidade e controle das ações humanas nas sociedades; o quanto o pensamento filosófico e sociológico influenciou essas sociedades.

Os mais diversos deuses foram “criados” pelos humanos para delimitar e controlar o comportamento em sociedade. Os deuses em sociedades maiores geralmente se preocupavam em controlar ações como “assassinatos, adultérios, falsos testemunhos e quebra de juramentos”, e como os deuses criados eram capazes de ver e saber de tudo, punindo trapaceiros e mentirosos, as religiões acabaram se tornando uma ferramenta eficaz para reduzir as desavenças dentro das sociedades humanas, permitindo assim a evolução tecnológica.

Durante nossa evolução, a reputação era mais importante do que a verdade, e isso nos influencia até hoje, principalmente na política e na religião. Prova disso são os diversos charlatões que ainda existem nestes dois campos. Indivíduos que eram bem quistos pelos demais membros do grupo tiveram uma chance maior de sobrevivência e deixaram para nós os genes desse comportamento. O autor usa o termo grupoísta para definir esse comportamento humano. Durante milhões de anos nossos antepassados buscaram juntar-se aos que eram mais parecidos com eles, formando grupos coesos e entrando em confronto com grupos diferentes.

É inevitável que cada sociedade seja diferente de outras, e que cada indivíduo dentro de uma mesma sociedade tenha sua particularidade, mas mesmo assim encontramos muitos pontos em comum nas ações desses indivíduos, principalmente no que tange a questão da moralidade. A ordenação desses indivíduos em uma sociedade deve obedecer a um conjunto básico de fatores para que ela funcione.

Os conflitos entre grupos que pensam diferente sempre existiu. O livro traz estudos que comprovam o seguinte: primeiro fazemos nossos julgamentos intuitivamente, baseado em toda nossa vivência, ainda que não de forma racional, e só posteriormente buscamos evidências para confirmar esses julgamentos. Isso acaba levando aos extremismos, atos que muitos não conseguem entender, pois são analisados sob um viés puramente racional, esquecendo-se do viés intuitivo, o predominante.

Haidt pensa que a empatia é o primeiro passo para lutar-se contra o moralismo fundamentalista, mesmo que a tarefa de simpatizar-se com indivíduos que tenham uma moralidade diferente da nossa seja uma tarefa muito difícil. O confronto, ainda que você utilize argumentos racionais, não levará a nenhuma mudança de pensamento/ação. Isso se estende aos mais diversos campos: da política à religião.

Sobre a política, o livro mostra que eleitores fanáticos são tão viciados nos argumentos aos quais estão constantemente expostos, e tem de fazer tantas contorções mentais para justificá-los, que acabam ficando livre das crenças contrárias e as consideram um absurdo. Por isso é tão difícil haver debate com fanáticos. Isso pode ser explicado também pelo viés da confirmação, quando o indivíduo já tem uma ideia pré-concebida sobre algo e não faz nada além de buscar quaisquer justificativas possíveis para confirmar o que pensa. Haidt sugere que há duas formas de mudar o pensamento extremista: lidando diretamente com o elefante (intuição) ou mudar o caminho percorrido pelo elefante com seu condutor (razão), mudando seu entorno.

Os políticos usam nossos valores morais para ganharem nosso voto e nosso dinheiro, eles são especialistas nisso. Enquanto para os políticos/eleitores de esquerda a justiça signifique igualdade, para os políticos/eleitores de direita ela significa proporcionalidade. Ver o mundo todo como uma unidade é mais difícil em sociedades WEIRD (Western, Educated, Industrialized, Rich, and Democratic – Ocidentais, Educadas, Industrializadas, Ricas e Democráticas). Pesquisas realizadas com pessoas WEIRD’s em diversos países mostraram que para essas pessoas a visão de mundo é mais focada no indivíduo do que no todo, ao contrário do que acontece em sociedades orientais, em grupos tribais e países em desenvolvimento. Isso ajuda a explicar porque políticos extremistas conservadores vem ganhando espaço nos países ocidentais.

Descobriu-se que os conservadores assim o são pois geralmente são criados por pais excessivamente rígidos ou porque temem a mudança, a novidade e a complexidade. Geralmente sofrem de medos existenciais, se apegando a uma visão simplista do mundo e se preocupando mais com seu grupo do que com o todo.

Já os liberais buscam mudar a organização social sem levar em consideração o peso que estas mudanças trariam para o capital moral. Para Haidt, esse é o ponto cego da esquerda. Enquanto liberais tentam mudar coisas demais em um tempo curto demais, reduzindo assim o estoque de capital moral existente, os conservadores não conseguem perceber que alguns interesses podem ser predatórios e não veem a necessidade de mudança que os novos tempos exigem.

O autor propõe que nossas decisões morais são tomadas levando-se em conta seis fundações morais: Cuidado, Justiça, Liberdade, Lealdade, Autoridade e Santidade. Enquanto os liberais (esquerda) tendem a focar mais nos três primeiros, os conservadores (direita) focam de forma quase equânime em todos os seis. Isso não só dificulta o diálogo entre as partes como também favorece o discurso conservador em eleições.

Por fim Haidt afirma que “a moralidade enlaça e cega”, nos juntando em grupos que “lutam uns contra os outros como se o destino do mundo dependesse de nosso lado vencer essa batalha”.

O livro traz muitos argumentos, baseados em estudos, para entender o momento político atual dos EUA (podemos usar para o Brasil) e de outros países do mundo. Não cabe num resumo tudo que o livro tem a oferecer. Por isso vale a pena a leitura se você tem interesse em tentar compreender um pouco do que está acontecendo…

O que aprendi com o livro “Subliminar: como o inconsciente influencia nossas vidas”, de Leonard Mlodinow…

 Compreender todos os meandros da subconsciência humana é, atualmente, uma tarefa impossível. Porém, já temos acesso a algumas informações sobre como nosso pensamento inconsciente influencia em nossas decisões. Este livro, de Leonard Mlodinow, reúne o que se sabia até 2012 sobre o tema, baseado em diversos estudos.

Nossos neurônios se comunicam através das sinapses em uma velocidade, e quantidade de conexões, inimaginável a nós. É incrível que “o sistema sensorial do homem envia ao cérebro cerca de 11 milhões de bits de informação por segundo”, e nós somos capazes de processar conscientemente apenas entre dezesseis e cinquenta bits por segundo. Não viveríamos nossas vidas adequadamente se processássemos grande parcela das informações que recebemos, nosso cérebro certamente travaria.

Por isso muito do que acontece em nossas mentes se dá na parte inconsciente do cérebro, em processos automáticos que fogem ao nosso controle, sem sequer termos a mínima noção disso, por uma questão de sobrevivência. A mente inconsciente trabalha em “muitos processos de percepção, memória, atenção, aprendizado”, para que possamos continuar vivendo sem maiores entraves.

Inconscientemente fazemos a maior parte dos julgamentos em nossas vidas: desde características físicas às sociológicas; julgamos desde livros pela capa até vestimentas de profissionais (afinal de contas, você confiaria sua saúde a um médico que lhe atendesse trajando camiseta e chinelos?). Estudos relatados no livro dizem que aos seis meses de idade o ser humano já faz julgamentos baseados na observação do comportamento social. Ainda bebês, já adquirimos a maior parte dos movimentos para expressar emoções, o que levaremos para toda a vida.

Nossa memória é afetada pelo tempo. Cada vez que recordamos, ou contamos um fato ocorrido, modificamos algumas pequenas partes, lacunas, deste fato. Com o passar do tempo podemos até mesmo criar memórias totalmente falsas. As lacunas da memória são preenchidas baseadas “em nossas expectativas, nos nossos sistemas de valores, de forma geral, e em nossos conhecimentos prévios”. Chegamos ao ponto de acreditar fielmente em nossas lembranças mesmo que sejam “fabricadas” pela nossa mente.

Nosso inconsciente é tão poderoso que dores emocionais se transformam em dor física, e por mais que busquemos explicações sobre isso, ainda não avançamos muito. Nosso cérebro evoluiu não para nos entendermos, mas sim para nos ajudar a sobreviver. Procurar conhecer-se com mais profundidade é ir além de nossa intuição.

O livro traz o conceito de in-group e out-group: os que pertencem aos nosso grupos e os demais, que estão de fora dos nossos grupos. Fazemos de tudo para proteger aqueles que pertencem aos nossos grupos. Para isso, a evolução legou-nos comportamentos sociais inconscientes, vestígio de nosso passado animal.

O gênero Homo evoluiu por cerca de 2 milhões de anos. Atingimos a nossa anatomia atual há cerca de 200 mil anos. Porém, nosso comportamento social, baseado na cultura, é um legado de apenas 50 mil anos. Nossa sociedade evoluiu a partir daí rapidamente, mas nosso cérebro ainda está nas cavernas.

A conexão social entre a espécie humana é tão forte, que testes realizados descobriram que estamos a apenas “seis graus de separação” de qualquer outro ser humano que vive na Terra. Ou seja, você conhece alguém, que conhece alguém, que conhece alguém, que conhece alguém, que conhece o/a ……… (complete com qualquer pessoa, viva, da qual você já ouvira falar).

Uma lição valiosa que aprendi no livro é que as expectativas, sejam elas positivas ou negativas, são capazes de influenciar no desempenho, desde o esportivo ao acadêmico. Por isso o preconceito é uma maldição tão difícil de se combater pois, “antes de alguém chegar a discutir qualquer assunto, a corrida já pode ter acabado, pois as aparências em si podem dar a um candidato grande vantagem inicial”.

A classificação, inclusive de pessoas, é uma estratégia do cérebro para  agilizar o processamento da grande quantidade de informações que recebemos e, quando nós classificamos algo, já estamos polarizando. Isso gera um exagero nas diferenciações: coisas “identificadas como pertencentes à mesma categoria parecem mais semelhantes entre si do que realmente são, enquanto as catalogadas em diferentes categorias parecem mais distintas do que são na verdade”. A mente inconsciente exagera diferenças que muitas vezes podem ser sutis. Por mais que avaliar outras pessoas possa parecer uma atividade racional, ela é influenciada muito mais por processos inconscientes e automáticos.

Como fazer para acabarmos com os preconceitos? Devemos nos esforçar para superar esses vieses inconscientes. Como? A classificação inconsciente é baseada em nossas experiências, então devemos ser expostos constantemente às diferenças, a características particulares com as quais não concordamos. A empatia é uma eficaz ferramenta para isso, sentir como se estivesse no lugar do outro traz uma percepção diferente que pode mudar a forma de pensar/agir.

Toda nossa vida é influenciada pelo inconsciente, a política, a ciência e o esporte também sofrem essa influência. Eis alguns exemplos: na política, pessoas que consideramos racionais buscam razões para continuar apoiando candidatos políticos mesmo quando acusados de comprovados deslizes; quando não querem acreditar em uma evidência científica, 1 milhão de estudos contrários não serão capazes de superar apenas 1 estudo que confirme o que a pessoa crê; no esporte, equipes vitoriosas, e seus torcedores, se entusiasmam após uma vitória, enquanto derrotados costumam sempre ignorar a qualidade do jogo de sua equipe e buscam fatores externos para comprovar sua derrota.

Por fim, por mais que o inconsciente influencia em todos os campos de nossas vidas, ainda somos capazes de escolher no que acreditar e as pessoas com as quais convivemos.