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sexta-feira, 21 de julho de 2023

Reflexões sobre o livro “Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais”, de Jaron Lanier

 Você sente que “Sua capacidade de conhecer o mundo, de saber a verdade, tem sido degradada?” Você senta que está mais ansioso, menos paciente, mais deprimido? Você sente que “a capacidade do mundo de conhecê-lo” está diminuindo?. Esse livro pode te ajudar a encontrar algumas respostas e entender um pouco melhor como funcionam as redes sociais.

Elas utilizam de um artifício psicológico para deixar-nos viciados. A cada like, curtida, elogio, nosso cérebro recebe um pouco de dopamina. As redes exploram essa “vulnerabilidade humana” (vulnerabilidade nesse caso) para nos manter mais engajados. Para o autor o termo engajamento deveria ser substituído por vício, ou seja, as redes nos fazem ficar cada vez mais viciados.

Para e pense: você já sentiu alguma mudança em seu comportamento causado pela interação com alguma rede social (Facebook, WhatsApp, Twitter, Instagram, etc.)? Provavelmente sim. As redes tem um potencial tão grande de mudar todo o comportamento da sociedade que nós as carregamos em nossos próprios bolsos e para onde quer que vamos. As redes nos reúnem em um mesmo lugar, é como se estivéssemos engaiolados.

Outro motivo pelo qual as redes sociais podem mudar nosso comportamento é porque elas mexem principalmente com nossas emoções. Emoções negativas como medo e raiva aparecem mais facilmente e duram por mais tempo do que emoções positivas. Para que você fique mais tempo na rede, gerando mais lucro para os criadores, é necessário que sejam despertadas em você emoções negativas. Obviamente isso traz mais danos do que benefícios à sociedade.

Percebe que pessoas com posicionamentos radicais estão ganhando os holofotes e inclusive cargos políticos? As redes sociais geram riqueza prendendo sua atenção. Os holofotes sempre procuram primeiro os mais babacas pois eles despertam mais a atenção. Desde que as redes sociais se popularizaram os babacas estão tendo mais voz no mundo e conquistando cargos importantes. Certamente você conhece pessoas que, se não fosse pelas redes sociais, não chamariam a atenção de tanta gente. Tanto a política quanto a economia estão sofrendo grande mudanças devido a elas. Anúncios veiculados nas redes mexem com nossas emoções e isso acaba nos manipulando. Quem paga mais tem mais chances de se dar bem, mudando o comportamento de uma parte maior dos usuários das redes.

O autor usa o acrônimo Bummer para se referir às redes. Eis o significado: “Behaviors of User Modified, and Made into an Empire for Rent”, que em português significa Comportamentos de Usuários Modificados e Transformados em um Império para Alugar. Essa máquina gera muito dinheiro pois é alugada a quem quer e pode pagar mais.

O autor usa os seguintes 10 argumentos para que você deixe de utilizar, pelo menos por um tempo, as redes sociais:

ARGUMENTO 1 – Você está perdendo seu livre-arbítrio

Você está ficando sem opções de escolha. Desde anúncios personalizados aos feeds selecionados por algoritmos, estamos perdendo a capacidade de escolher aquilo que vamos ver.

ARGUMENTO 2 – Largar as redes sociais é a maneira mais certeira de resistir à insanidade dos nosso tempos

Como a Bummer dá uma linha do tempo específica para cada usuário, está mais difícil entender como o outro pensa pois não sabemos ao que ele tem acesso. Da mesma forma está mais difícil para você ser entendido. Isso dificulta o diálogo entre ideias diferentes e acaba por criar polarizações como a que ocorre atualmente no Brasil e em outros países.

ARGUMENTO 3 – As redes sociais estão tornando você um babaca

Se ao participar de alguma plataforma on-line você notar algo desagradável dentro de si mesmo, uma insegurança, uma sensação de baixa autoestima, uma ânsia de partir para o ataque, de bater em alguém, repense a forma como você utiliza suas redes. Tente pelo menos ficar um tempo longe delas.

ARGUMENTO 4 – As redes sociais minam a verdade

As contas falsas das redes sociais movimentam aquele meio, por isso as empresas não se livram delas. Ideias absurdas ganham coro nas redes sociais porque elas são ferramentas eficientes para  prender a atenção. Não há interesse dos criadores das redes em acabar com as notícias falsas ou com os perfis falsos. Grande parte do engajamento nas redes são feitas justamente por contas falsas, por robôs.

ARGUMENTO 5 – As redes sociais transformam o que você diz em algo sem sentido

O que você diz não faz sentido sem contexto. A Bummer substitui seu contexto pelo dela. Para os algoritmos das redes você é somente mais um número: só interessa quantos seguidores tem, quantas curtidas recebe ou dá. Quando você se torna apenas um número passa a ser subserviente ao sistema. Se já participou de algum “debate” em qualquer rede social, sabe que dificilmente se chega a uma conclusão satisfatória, independente do seu ponto de vista e dos argumentos que possa utilizar.

É muito perigoso que as redes sociais estejam transformando opinião em informação. Elas permitem que fatos consolidados, tais como as mudanças climáticas, a forma redonda do planeta, dentre tantos outros assuntos, sejam refutados meramente por opiniões. Como se as opiniões tivessem o mesmo peso de estudos realizados ao longo de décadas e até mesmo de séculos.

ARGUMENTO 6 – As redes sociais destroem sua capacidade de empatia

Você perde a capacidade de entender as outras pessoas pois não sabe o que elas veem. Os algoritmos determinam o que cada pessoa vê, gerando um feed diferente para cada usuário. Se antes todos se reuniam para assistir ao mesmo jornal na TV, hoje no celular cada um tem acesso a notícias personalizadas. Quanto da visão de mundo das pessoas que você conhece está sendo moldada pela Bummer? Estamos perdendo a percepção da realidade. As pessoas sentem que já não vivem no mesmo mundo, o mundo real. Sabemos menos do que nunca do que os outros veem, assim não temos a oportunidade de tentar entender como pensam. Por isso teorias tão paranoicas tem ficado mais comum e são mais difundidas.

ARGUMENTO 7 – As redes sociais deixam você infeliz

O próprio Facebook reconheceu que seus produtos podem causar danos reais. Pesquisas realizadas por funcionários da plataforma chegaram a essa conclusão (o livro traz várias referências sobre o assunto).

Você pode ficar mais ansioso, perder autoestima. A obsessão por números nas redes sociais prendem as pessoas a essas redes, gerando um círculo vicioso. A Bummer não se preocupa com você, ela quer sua atenção para transformar seu comportamento em um produto para ser vendido. Tem muita gente disposta a pagar por isso.

ARGUMENTO 8 – As redes sociais não querem que você tenha dignidade econômica

Você percebeu que desde o aparecimento das redes sociais a economia do bico e a informalidade só tem crescido? Trabalhadores que vivem de bico podem passar uma vida inteira sem segurança financeira. Como se planejar de você mal sabe se terá trabalho amanhã?

As redes mais famosas são gratuitas pois o que gera lucro para a Bummer é a mudança de comportamento. A propaganda é a força motriz para essa mudança.

ARGUMENTO 9 – As redes sociais tornam a política impossível

O tribalismo causado pela Bummer ajudou democracias a elegerem líderes autoritários em países como Turquia, Áustria, Estados Unidos, Índia, Hungria e Brasil. Telefones celulares se tornaram uma ferramente de propagação de mensagens falsas e paranoicas. É difícil falar com pessoas que recebem esse tipo de conteúdo porque elas vivem em um “universo alternativo de teorias da conspiração e em emaranhados de argumentos fomentados pelas ilusões mais mesquinhas, explodindo de uma raiva que é puro fruto da insegurança”. Assim os babacas, que acabam recebendo mais atenção, passam à frente de pessoas bem intencionadas.

A Bummer faz com as pessoas o mesmo que a síndrome de Estocolmo. Você vai a plataformas como Facebook ou Twitter porque está sofrendo de ansiedade que, em parte, foi causada pela própria plataforma.

ARGUMENTO 10 – As redes sociais odeiam sua alma

Termino com a citação, utilizada pelo autor do livro, mais conhecida do escritor da extrema direita Mencius Moldbug: “Em muitos aspectos o absurdo é uma ferramenta de organização mais eficiente do que a verdade. Qualquer pessoa pode acreditar na verdade. Acreditar no absurdo é uma lealdade que não pode ser forjada. Serve como um uniforme político. E, se você tem um uniforme, tem um exército.”

Qualquer semelhança com o Brasil atual não deve ser mera coincidência…

O que aprendi com o livro “Nação dopamina: Por que o excesso de prazer está nos deixando infelizes e o que podemos fazer para mudar”, de Anna Lembke

 A dopamina, neurotransmissor que atua na comunicação dos neurônios no cérebro, atua na regulação de nossas emoções, no sistema prazer-sofrimento, além de ter outras funções. Como é responsável por nosso sistema de recompensas, o número de estudos envolvendo sua ação vem aumentando nos últimos anos.

A atuação desse neurotransmissor no sistema prazer-sofrimento, emoções que agem no mesmo local do cérebro, é tema do livro “Nação dopamina: Por que o excesso de prazer está nos deixando infelizes e o que podemos fazer para mudar”, escrito pela psiquiatra Anna Lembke, baseado em estudos científicos sobre o tema e nas consultas da médica com seus pacientes.

No livro, a autora traz à luz como a dopamina leva aos vícios, desde o vício em drogas, pornografia, games, ao vício em smartphones e redes sociais. Quando fazemos alguma atividade que nos gera prazer, a dopamina age no sistema de recompensas nos dando prazer para que possamos repetir esse comportamento em busca de novas sensações de prazer. A busca constante pelo prazer gera os comportamentos adictivos: aqueles que causam vício. O comportamento adictivo libera uma carga de dopamina no cérebro, gerando um prazer passageiro, e em seguida é gerado um déficit do neurotransmissor. A busca por uma nova carga de dopamina leva ao vício. 

Esse sistema funciona como se tivéssemos uma balança no cérebro: de um lado está o prazer e do outro o sofrimento (prazer ———- sofrimento). Devido à homeostase basal (processo pelo qual o corpo busca sempre o equilíbrio entre suas funções) quando sentimos prazer, a balança pende para o lado do prazer mas há um movimento inato de equilíbrio da balança, isso aumenta o peso no lado do sofrimento no cérebro, para equilibrar a balança. Como houve aumento do peso do sofrimento, a balança agora pende para esse lado, a homeostase entra em ação novamente exigindo de nós que façamos algo que gere prazer (aumentando o peso no lado do prazer), para que a balança equilibre novamente, e ficamos nesse ciclo eterno de sofrimento-prazer. Portanto, todo prazer gera algum sofrimento posterior e por vezes o sofrimento resultante é maior que o prazer gerado inicialmente.

Como tendemos a valorizar as recompensas de curto prazo em detrimento às recompensas de longo prazo, mesmo que as de longo prazo tragam maiores benefícios, a busca constante de dopamina leva-nos ao vício. A autora cita estudos afirmando que estar sob o efeito de drogas (do álcool e cigarro a drogas pesadas) diminui o horizonte temporal da pessoa, dificultando o controle emocional nesses casos, deixando-nos viciados nestas substâncias. Me questiono se o aumento de doenças como o câncer também podem ser explicadas pelo abuso de substâncias que são reconhecidamente tóxicas ao corpo humano.

É importante saber que o vício não é governado pela razão e sim pela balança prazer-sofrimento e que cada pessoa tem os seus vícios, muitos deles com a capacidade de gerar danos irreparáveis à vida da pessoa. Atualmente precisamos de mais recompensas para sentir prazer e menos danos para sentir dor, então pode-se afirmar que estamos mais frágeis emocionalmente. Tal fragilidade e a exposição prolongada e repetitiva a estímulos prazerosos diminui nossa tolerância à dor, efeito observado na sociedade atual, onde predominam doenças mentais como ansiedade, depressão, distúrbios alimentares, etc.

Quando a dosagem de dopamina agindo no cérebro é grande, o neurônio cresce para se adaptar a essa dosagem, esse efeito é denominado plasticidade dependente da experiência. Por esse motivo são necessárias doses de dopamina cada vez maiores para que o cérebro sinta o mesmo efeito. É importante ressaltar o fato de que o vício modifica permanentemente o cérebro, mas ainda assim ele é capaz de descobrir novos caminhos para fugir da dependência.

A sociedade atual, conforme está organizada, com fartura por todos os lados (desde a informação aos alimentos industrializados), gera sofrimento emocional aos indivíduos que a compõem. Não evoluímos para viver em um ambiente de fartura. Nossa evolução biológica, durante milhões de anos, se deu em um ambiente de escassez. Aparelhos eletrônicos, principalmente os smartphones, oferecem dopamina (recompensas para o cérebro) 24 horas por dia, causando desequilíbrio na balança.

Os smartphones foram uma invenção tão poderosa que podemos considerá-los como um órgão exterior ao corpo humano, pois é um dos raros artefatos tecnológicos criados pelo ser humano que é carregado para todos os lados junto ao corpo, onde quer que vamos (até mesmo ao banheiro!). Com um smartphone em mãos temos infinitas opções e somos expostos a comportamentos adictivos o tempo todo.

O consumo (do que quer que seja) tornou-se a razão de ser de grande parte dos indivíduos na sociedade atual. O acesso fácil é um grande causador do do comportamento adictivo. A internet, onde se encontra praticamente tudo que se deseja, estimula o consumo compulsivo desenfreado. A rede oferece acesso ilimitado ao conhecido e faz sugestões do que ainda desconhecemos. Até o altruísmo virou uma espécie de bem de consumo, pois criou-se o hábito de mostrar aos demais que praticamos a boa ação. Como se uma foto ou um texto postado em rede social, fazendo o bem a outrem, fosse apenas mais uma forma de demonstrarmos nossa felicidade.

As redes sociais são tão perversas que foi demonstrado em estudos que a incerteza do like chega a ser tão recompensadora ao cérebro (liberando a dopamina) quanto o próprio like. Outro problema gerado pelas mídias sociais é o fato de que agora não nos comparamos apenas com nossos vizinhos, amigos e parentes, mas com o mundo todo. Este tipo de comparação, muitas vezes ocorrendo de forma inconsciente dentro do cérebro, sempre nos deixa aquém em algum aspecto de nossas vidas, alguém sempre será melhor do que nós em algo.

Assim foi criada a economia da dopamina: grande parte do mercado atualmente é voltado à liberação de dopamina e causar dependência dos produtos. Algumas das maiores empresas do mundo hoje são especialistas justamente nessa função. 

Embora a autora cite vários problemas gerados pelo vício e como a dopamina age no sistema de recompensas do cérebro, ela também sugere alguns passos a serem seguidos para que a homeostase basal do cérebro seja restabelecida, começando pelo jejum do vício. Segundo a autora, em média são necessárias quatro semanas para começar a superação de um vício e não se deve trocar uma dependência por outra, pois isso não resolve o problema.

Ela usa a sigla DOPAMINE  (a palavra dopamina em inglês) com passos a serem seguidos para lidar com o vício:

ata (dados): descobrir como e quando se dá o uso do que leva ao vício;

bjectives (objetivos): descobrir o porquê de usar aquilo que vicia;

roblems (problemas): relatar os problemas gerados pelo comportamento adictivo;

bstinence (abstinência): abstinência do vício para restaurar a homeostase basal do cérebro;

indfulness: observar as reações no cérebro, e no corpo, ao se afastar do vício;

nsight: compreender o comportamento e o que se pode fazer para se afastar do vício;

ew steps (novos passos): determinar novos caminhos para mudança do comportamento

xperience (experiência): ir experimentando o que é melhor para aprimorar os resultados ao afastar-se do vício.

O livro ainda traz a experiência clínica da autora, com comportamentos que ela sugere aos seus pacientes para afastar, ou ao menos minimizar, o vício. Importante ressaltar o alerta por ela feito: “na agonia do desejo, não há escolha”. Por isso é preciso criar barreiras entre nós e o vício. Para isso é preciso comprometer-se da seguinte forma:

  • Autocomprometimento físico: afastar fisicamente o vício, criar barreiras físicas entre a pessoa e o comportamento adictivo;
  • Autocomprometimento cronológico: limitar o tempo e estabelecer metas, restringir o tempo de uso daquilo que vicia;
  • Autocomprometimento categórico: categorizar os consumos da dopamina entre aqueles que podem ser consumidos e aqueles que não podem.

Outra parte importante do livro é aquela que fala sobre como preparar nossos filhos para viver nessa sociedade da economia da dopamina. Demonstrar aos filhos nossa fragilidade, nossos erros e defeitos, permite com que eles se aceitem melhor como são, em vez de buscarem a perfeição, comparando-se aos outros. Devemos sempre buscar a honestidade mútua, pois isso exclui a vergonha e aumenta a intimidade com nossos filhos, e o mais importante, a honestidade libera tanta dopamina quanto os comportamentos adictivos.

Restabelecer a homeostase basal do cérebro é importante pois assim somos capazes de sentirmos prazer ao fazermos coisas simples, tais como sentar para brincar com os filhos ou simplesmente tomar um cafezinho com as pessoas que amamos.