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sexta-feira, 21 de julho de 2023

Sei quem sou, FODA-SE a opinião alheia!?

 Vivemos um tempo no qual nos sentimos estimulados a compartilhar quase tudo que fazemos/vivemos. Isso afeta nossa identidade e nossas ações, fazemos algo pensando em como compartilhar aquela ação. Os likes que recebemos nas redes sociais afetam nossa vida. Cada interação dessa libera um bocado de dopamina em nossos cérebros. A dopamina é um hormônio ligado à sensação de prazer/bem-estar. As interações causam dependência, tal qual acontece com nosso cérebro quando usamos alguma droga, e precisamos de doses cada vez maiores para nos satisfazer. Isso causa dependência.

As opiniões alheias são importantes pois somos seres sociais, precisamos de interação. Porém sermos um ser social não quer dizer levar nossa vida baseado exclusivamente nas opiniões alheias, mas sim saber o que é importante para si e o que não importa. Quando alguém diz algo sobre você, o quer que se seja, podem ocorrer uma das duas ações a seguir: ou a pessoa está mentindo ou dizendo a verdade. Se é mentira, você não deve se preocupar, pois é mentira e você não deve mudar por causa de uma mentira; Se é verdade e isto lhe incomoda, ou você muda o que incomoda em si, ou você concorda com o que foi dito e se acostuma com essa ideia; então não importa o que seja dito sobre você, na maior parte do tempo você é o responsável por sua reação a isso.

E como mudar um comportamento? Saber quem é e o que fazer, conhecer-se, embora possa ser um processo difícil, nos ajuda a minimizar os efeitos nocivos que as redes sociais e quaisquer outras interações que tenhamos possam nos causar. O conhecimento liberta, te ensina as ferramentas adequadas para lidar com cada situação.

Ao mesmo tempo precisamos do reconhecimento social, ele é importante desde os tempos das cavernas, pois só deixou descendentes aqueles que eram bem vistos pelas sociedades nas quais viveram. Mais uma vez, como lidar com essa questão? O importante é saber quem é e o que importa para si. Embora conhecer-se possa ser difícil e muitas vezes passar por um processo doloroso, ao saber quem se é, nossa vida passar a fazer mais sentido e nos sentimos mais leves, principalmente em relação às opiniões alheias.

O que aprendi com o livro “Nação dopamina: Por que o excesso de prazer está nos deixando infelizes e o que podemos fazer para mudar”, de Anna Lembke

 A dopamina, neurotransmissor que atua na comunicação dos neurônios no cérebro, atua na regulação de nossas emoções, no sistema prazer-sofrimento, além de ter outras funções. Como é responsável por nosso sistema de recompensas, o número de estudos envolvendo sua ação vem aumentando nos últimos anos.

A atuação desse neurotransmissor no sistema prazer-sofrimento, emoções que agem no mesmo local do cérebro, é tema do livro “Nação dopamina: Por que o excesso de prazer está nos deixando infelizes e o que podemos fazer para mudar”, escrito pela psiquiatra Anna Lembke, baseado em estudos científicos sobre o tema e nas consultas da médica com seus pacientes.

No livro, a autora traz à luz como a dopamina leva aos vícios, desde o vício em drogas, pornografia, games, ao vício em smartphones e redes sociais. Quando fazemos alguma atividade que nos gera prazer, a dopamina age no sistema de recompensas nos dando prazer para que possamos repetir esse comportamento em busca de novas sensações de prazer. A busca constante pelo prazer gera os comportamentos adictivos: aqueles que causam vício. O comportamento adictivo libera uma carga de dopamina no cérebro, gerando um prazer passageiro, e em seguida é gerado um déficit do neurotransmissor. A busca por uma nova carga de dopamina leva ao vício. 

Esse sistema funciona como se tivéssemos uma balança no cérebro: de um lado está o prazer e do outro o sofrimento (prazer ———- sofrimento). Devido à homeostase basal (processo pelo qual o corpo busca sempre o equilíbrio entre suas funções) quando sentimos prazer, a balança pende para o lado do prazer mas há um movimento inato de equilíbrio da balança, isso aumenta o peso no lado do sofrimento no cérebro, para equilibrar a balança. Como houve aumento do peso do sofrimento, a balança agora pende para esse lado, a homeostase entra em ação novamente exigindo de nós que façamos algo que gere prazer (aumentando o peso no lado do prazer), para que a balança equilibre novamente, e ficamos nesse ciclo eterno de sofrimento-prazer. Portanto, todo prazer gera algum sofrimento posterior e por vezes o sofrimento resultante é maior que o prazer gerado inicialmente.

Como tendemos a valorizar as recompensas de curto prazo em detrimento às recompensas de longo prazo, mesmo que as de longo prazo tragam maiores benefícios, a busca constante de dopamina leva-nos ao vício. A autora cita estudos afirmando que estar sob o efeito de drogas (do álcool e cigarro a drogas pesadas) diminui o horizonte temporal da pessoa, dificultando o controle emocional nesses casos, deixando-nos viciados nestas substâncias. Me questiono se o aumento de doenças como o câncer também podem ser explicadas pelo abuso de substâncias que são reconhecidamente tóxicas ao corpo humano.

É importante saber que o vício não é governado pela razão e sim pela balança prazer-sofrimento e que cada pessoa tem os seus vícios, muitos deles com a capacidade de gerar danos irreparáveis à vida da pessoa. Atualmente precisamos de mais recompensas para sentir prazer e menos danos para sentir dor, então pode-se afirmar que estamos mais frágeis emocionalmente. Tal fragilidade e a exposição prolongada e repetitiva a estímulos prazerosos diminui nossa tolerância à dor, efeito observado na sociedade atual, onde predominam doenças mentais como ansiedade, depressão, distúrbios alimentares, etc.

Quando a dosagem de dopamina agindo no cérebro é grande, o neurônio cresce para se adaptar a essa dosagem, esse efeito é denominado plasticidade dependente da experiência. Por esse motivo são necessárias doses de dopamina cada vez maiores para que o cérebro sinta o mesmo efeito. É importante ressaltar o fato de que o vício modifica permanentemente o cérebro, mas ainda assim ele é capaz de descobrir novos caminhos para fugir da dependência.

A sociedade atual, conforme está organizada, com fartura por todos os lados (desde a informação aos alimentos industrializados), gera sofrimento emocional aos indivíduos que a compõem. Não evoluímos para viver em um ambiente de fartura. Nossa evolução biológica, durante milhões de anos, se deu em um ambiente de escassez. Aparelhos eletrônicos, principalmente os smartphones, oferecem dopamina (recompensas para o cérebro) 24 horas por dia, causando desequilíbrio na balança.

Os smartphones foram uma invenção tão poderosa que podemos considerá-los como um órgão exterior ao corpo humano, pois é um dos raros artefatos tecnológicos criados pelo ser humano que é carregado para todos os lados junto ao corpo, onde quer que vamos (até mesmo ao banheiro!). Com um smartphone em mãos temos infinitas opções e somos expostos a comportamentos adictivos o tempo todo.

O consumo (do que quer que seja) tornou-se a razão de ser de grande parte dos indivíduos na sociedade atual. O acesso fácil é um grande causador do do comportamento adictivo. A internet, onde se encontra praticamente tudo que se deseja, estimula o consumo compulsivo desenfreado. A rede oferece acesso ilimitado ao conhecido e faz sugestões do que ainda desconhecemos. Até o altruísmo virou uma espécie de bem de consumo, pois criou-se o hábito de mostrar aos demais que praticamos a boa ação. Como se uma foto ou um texto postado em rede social, fazendo o bem a outrem, fosse apenas mais uma forma de demonstrarmos nossa felicidade.

As redes sociais são tão perversas que foi demonstrado em estudos que a incerteza do like chega a ser tão recompensadora ao cérebro (liberando a dopamina) quanto o próprio like. Outro problema gerado pelas mídias sociais é o fato de que agora não nos comparamos apenas com nossos vizinhos, amigos e parentes, mas com o mundo todo. Este tipo de comparação, muitas vezes ocorrendo de forma inconsciente dentro do cérebro, sempre nos deixa aquém em algum aspecto de nossas vidas, alguém sempre será melhor do que nós em algo.

Assim foi criada a economia da dopamina: grande parte do mercado atualmente é voltado à liberação de dopamina e causar dependência dos produtos. Algumas das maiores empresas do mundo hoje são especialistas justamente nessa função. 

Embora a autora cite vários problemas gerados pelo vício e como a dopamina age no sistema de recompensas do cérebro, ela também sugere alguns passos a serem seguidos para que a homeostase basal do cérebro seja restabelecida, começando pelo jejum do vício. Segundo a autora, em média são necessárias quatro semanas para começar a superação de um vício e não se deve trocar uma dependência por outra, pois isso não resolve o problema.

Ela usa a sigla DOPAMINE  (a palavra dopamina em inglês) com passos a serem seguidos para lidar com o vício:

ata (dados): descobrir como e quando se dá o uso do que leva ao vício;

bjectives (objetivos): descobrir o porquê de usar aquilo que vicia;

roblems (problemas): relatar os problemas gerados pelo comportamento adictivo;

bstinence (abstinência): abstinência do vício para restaurar a homeostase basal do cérebro;

indfulness: observar as reações no cérebro, e no corpo, ao se afastar do vício;

nsight: compreender o comportamento e o que se pode fazer para se afastar do vício;

ew steps (novos passos): determinar novos caminhos para mudança do comportamento

xperience (experiência): ir experimentando o que é melhor para aprimorar os resultados ao afastar-se do vício.

O livro ainda traz a experiência clínica da autora, com comportamentos que ela sugere aos seus pacientes para afastar, ou ao menos minimizar, o vício. Importante ressaltar o alerta por ela feito: “na agonia do desejo, não há escolha”. Por isso é preciso criar barreiras entre nós e o vício. Para isso é preciso comprometer-se da seguinte forma:

  • Autocomprometimento físico: afastar fisicamente o vício, criar barreiras físicas entre a pessoa e o comportamento adictivo;
  • Autocomprometimento cronológico: limitar o tempo e estabelecer metas, restringir o tempo de uso daquilo que vicia;
  • Autocomprometimento categórico: categorizar os consumos da dopamina entre aqueles que podem ser consumidos e aqueles que não podem.

Outra parte importante do livro é aquela que fala sobre como preparar nossos filhos para viver nessa sociedade da economia da dopamina. Demonstrar aos filhos nossa fragilidade, nossos erros e defeitos, permite com que eles se aceitem melhor como são, em vez de buscarem a perfeição, comparando-se aos outros. Devemos sempre buscar a honestidade mútua, pois isso exclui a vergonha e aumenta a intimidade com nossos filhos, e o mais importante, a honestidade libera tanta dopamina quanto os comportamentos adictivos.

Restabelecer a homeostase basal do cérebro é importante pois assim somos capazes de sentirmos prazer ao fazermos coisas simples, tais como sentar para brincar com os filhos ou simplesmente tomar um cafezinho com as pessoas que amamos.