O julgamento do nazista Eichmman, responsável pelas deportações de judeus da Alemanha após Hitler assumir o comando do país, é retratado neste livro de Hannah Arendt. A autora traz alguns detalhes sobre o julgamento realizado em Israel, por uma corte israelense, depois que Eichmman foi capturado em Buenos Aires.
Dentre os pontos destacados da narrativa, a autora cita o fato de Eichmman ser, até onde se pode considerar isso, um cidadão comum, sem grande intelecto, e que seria um exemplo para seu círculo familiar e de amizade, fato atestado por amigos, familiares e até religiosos. Ele era considerado um "ciclista", alguém que baixa a cabeça para os superiores e chuta os subordinados. O julgamento causou um certo constrangimento em muitos que imaginavam Eichmman como um monstro, quando perceberam que ele poderia ser considerado um cidadão comum.
Buscando realizar aquilo que lhe era ordenado, e com o objetivo de subir na hierarquia burocrática alemã, Eichmman e outros chegaram a tal ponto de submissão às ordens superiores, que simplesmente as acatavam sem nenhum tipo de contestação. Isso nos leva a refletir como a simples submissão a ordens superiores pode gerar um efeito bola de neve e resultar em catástrofes.
O nazismo até a eclosão da Segunda Guerra Mundial, não governava a Alemanha de modo autoritário. Os alemães admiravam seu chanceler, que em poucos anos saiu de cabo do exército até virar Führer de 80 milhões de pessoas. Como não seguir alguém que alcança tal feito? Talvez isso explique, em parte, como mesmo após tantas derrotas durante a guerra, o povo alemão continuava acreditando em seu Führer. Aqueles que foram contrários ao atos nazistas não tinham força suficiente para lutar contra o regime.
Após a eclosão da Segunda Guerra, os nazistas adotaram 3 etapas para se "livrar" dos judeus (tornar a Alemanha judenrein):
1) Migração forçada;
2) Concentração;
3) Solução final.
Dos países que foram ocupados pela Alemanha e que apoiavam o regime nazista, apenas a Dinamarca resistiu ao judenrein alemão. Isso mostra como era difícil ir contra a imposição do totalitarismo alemão. Essa posição dinamarquesa acabou abrindo os olhos de muitos nazistas, que até então não tinham total consciência do que estavam colocando em prática, já que vários países os apoiavam. Como as ordens de Hitler eram mais faladas do que escritas, a acusação teve problemas em encontrar provas concretas (documentos) que incriminassem Eichmman.
A autora cita o fato de surgirem questionamentos quanto à submissão dos judeus ao judenrei alemão, e alega que a submissão judaica chegara a tal ponto, pois os judeus preferiam a morte imediata nas câmaras de gás, ou por fuzilamento, a tentarem uma revolta e morrerem aos poucos todos os dias (sendo torturados), durante meses a fio.
O mal perdera a qualidade pela qual a maior parte das pessoas o reconhecem, a qualidade da tentação. Os nazistas que impuseram a Solução Final aprenderam a resistir à tentação de não fazer o mal, banalizando-o. Ou seja, fazer o mal era algo comum, e muitas vezes, nem sequer percebiam que estavam fazendo o mal. A autora questiona a moral desses atos, afirmando que embora alguns atos morais por parte de pessoas ligadas ao nazismo (como não acatar ordens superiores), não poderiam ter modificado o resultado final. Mas apesar disso, tais atos são necessários, pois eles ficarão para a posteridade, servindo sobretudo como exemplo a ser seguido.
Embora Eichmman tenha sido o responsável pelo setor de deportação alemão, a autora cita que a lei sempre deve julgar o crime, e não a pessoa. A vítima é a quebra do contrato social, aquele que mantem a ordem na sociedade, e não a pessoa que cometeu o crime.